Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

  • Fontes Franciscanas
  • Fontes Biográficas
  • Tomás de Celano
  • Tratado dos Milagres (3Cel)

TEXTO ORIGINAL

Tractatus de Miraculis (3Cel) - 181

181 
1 Praxedis, religiosarum famosissima in Urbe ac orbe Romano, quae a tenella infantia sua, propter aeterni Sponsi amorem, carcere arcto se per quadraginta iam fere annos abdiderat, apud sanctum Franciscum familiaritatis gratiam commeruit specialem. 
2 Nam quod nulli feminae alteri fecit, ad obedientiam eam suscepit, pia devotione concedens ei religionis habitum, tunicam videlicet atque chordam. 
3 Cum haec die quadam pro rebus sibi opportunis solarium suae cellulae ascendisset, impulsione phantastica, crudeli casu corruit super terram; sicque pede penitus cum crure confracto, insuper a positione sua ex toto se humerus sequestravit. 
4 Cumque per multos annos elapsos universorum virgo Christi ignoraret adspectus, et semper se ignoraturam firmum haberet propositum, quasi truncus super terram iacens et nullius solamen admittens, quo se verteret nesciebat. 
5 Cuiusdam cardinalis iussu et religiosorum consilio ad frangendum carcerem cogebatur, ut alicuius religiosae feminae solatio frueretur, mortis periculum cavens, quod per incuriam et neglectum accidere potuisset. 
6 Ipsa vero hoc facere penitus renuens, modis quibus poterat resistebat, ne vel ad modicum votum suum contingeret violare. 
7 Miserationis proinde divinae pedibus obnixe provolvitur, et piis querimoniis beatissimo patri Francisco, cum sero factum esset (cfr. Mar 6,47), conqueritur: 
8 “Sanctissime”, inquit, “mi pater, qui tantorum necessitatibus ubique benigne subvenis, quos in carne positus nesciebas, cur mihi miserrimae, quae tuam dulcissimam gratiam utcumque te vivente promerui, non succurris? 
9 Oportet enim, ut cernis beate pater, aut mutare propositum, aut mortis subire iudicium”. 
10 Cumque sermones huiuscemodi corde atque ore revolveret, et miserandum affectum ingeminatis singultibus aperiret, subito capta sopore, venit in excessum mentis (cfr. Act 11,5). 
11 Et ecce benignissimus pater, vestimentis gloriae (cfr. Is 52,1) candidatus, carcere in obscuro descendens, dulcibus affatibus alloqui eam coepit: “Surge”, inquit, “filia benedicta, surge, ne timeas (cfr. Rut 3,10; Luc 6,8; 1,30). 
12 Sanitatis integrae suscipe signum et inviolabiliter tuum serva propositum!”. 
13 Et apprehensa manu eius, elevans eam (cfr. Mar 9,26), disparuit. 
14 Ipsa vero per cellulam suam huc atque illuc se convertens, nesciebat quid per servum Dei in ea fuisset effectum. 
15 Putabat enim se visum videre (cfr. Act 12,9). 
16 Tandem veniens ad fenestram, solitum signum fecit.
17 Ad quem citissime monachus quidam accedens, et ultra quam credi potest admirans, ad eam dixit: “Quid factum est, mater, quod surgere potuisti?”. 
18 At ipsa adhuc somniare se credens et ipsum non esse putans, ignem accendi poposcit. 
19 Apportato iam lumine, in se reversa (cfr. Act 12,11), nullum dolorem sentiens, cuncta quae acciderant per ordinem (cfr. Est 15,9) enarravit.

TEXTO TRADUZIDO

Tratado dos Milagres (3Cel) - 181

181 
1 Praxedes era a mais famosa das religiosas de Roma e do território romano. Desde a mais tenra infância, por amor do Esposo eterno, já se prendera em estreito cárcere por quase quarenta anos, e gozava de especial amizade de São Francisco. 
2 Pois, o que não fez com mais nenhuma mulher, recebeu-a na obediência, concedendo-lhe devotamente o hábito da Ordem: a túnica e o cordão. 
3 Certo dia ela subiu ao sótão de sua cela para buscar o que precisava, mas teve uma tontura e levou um tombo cruel, caindo no chão: fraturou um pé e uma perna e ainda deslocou completamente um ombro. 
4 A virgem de Cristo, nos anos passados, tinha desconhecido o rosto de todos e queria fazer o mesmo para sempre por um firme propósito. Jazia então por terra como um tronco, e como não aceitava ajuda de ninguém, não sabia a quem recorrer. 
5 Por ordem de um cardeal e a conselho de religiosos, exortaram-na a quebrar o cárcere, para poder gozar do consolo de alguma mulher religiosa, evitando o perigo de morrer, o que bem podia acontecer por descuido ou negligência. 
6 Mas ela se recusava absolutamente a fazer isso, resistia como podia para não faltar nem um pouquinho ao voto que fizera. 
7 Por isso voltou-se suplicantemente aos pés da misericórdia divina, e com piedosas queixas, já pela tarde, reclamou do santíssimo pai Francisco: 
8 “Meu santíssimo pai, que socorres com bondade, em toda parte, a necessidade de tanta gente que nem conheceste quando vivias, por que não vens me socorrer agora que estou necessitada, pois, ainda que indigna, mereci tua amizade durante a tua vida?

9 Porque, como podes ver, bem-aventurado pai, tenho que mudar o voto ou enfrentar o juízo da morte”. 
10 Enquanto dizia essas coisas no coração e na boca, e implorava o afeto misericordioso com muitos soluços, foi tomada por um sono imprevisto e entrou em êxtase. 
11 Eis que o pai bondosíssimo, em brancas vestes da glória, desceu ao cárcere escuro e começou a falar docemente com ela: “Levanta-te, filha bendita, levanta-te sem medo. 
12 Recebe o sinal da saúde perfeita e mantém inviolavelmente o teu propósito!”. 
13 Tomando a mão dela, levantou-a e desapareceu. 
14 Ela, virando-se para todos os lados em sua pequena cela, não entendia o que tinha sido feito nela pelo servo de Deus. 
15 Achava que estava tendo uma visão. 
16 No fim, chegou à janela e fez o sinal costumeiro. 
17 Um monge veio rapidamente e, mais admirado do que se possa crer, disse-lhe: “O que aconteceu, madre, que pudeste levantar-se?” 
18 Mas ela, achando que ainda estava a sonhar, e não sabendo que era ele, pediu que acendesse o fogo. 
19 Quando lhe trouxeram luz, caiu em si, percebeu que não sentia nenhuma dor, e contou em ordem tudo que tinha acontecido.