Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 57

Caput 57. De rustico qui invenit eum humiliter scopantem ecclesiam et, conversus, intravit ordinem et fuit sanctus frater.

1 Cum vero ivisset ad quamdam ecclesiam unius villae civitatis Assisii, coepit eam scopare humiliter et mundare. Et statim exivit rumor de ipso per totem villam; videbatur enim libenter ab illis hominibus et libentius audiebatur. 2 Ut autem audivit hoc quidam rusticus mirae simplicitatis qui arabat in agro suo, Johannes nomine, statim ivit ad ipsum et invenit eum scopantem ecclesiam humiliter et devote. 3 Et ait illi: “Frater, da mihi scopam, quia volo te adjuvare”. Et accipiens scopam de manibus ejus, scopavit residuum.
4 Et sedentibus illis simul, ait ille beato Francisco: “Frater, jam est diu quod habui voluntatem serviendi Deo, et maxime postquam de te et tuis fratribus rumorem audivi, sed nesciebam qualiter ad te venirem. 5 Nunc ergo, postquam placuit Domino ut te viderem, volo facere quidquid tibi placuerit”.
6 Beatus Franciscus considerans ejus fervorem exultavit in Domino, maxime quia tunc paucos fratres habebat, et videbatur sibi quod propter simplicitatem ipsius et puritatem deberet esse bonus religiosus. 7 Dixit autem ei: “Frater, si vis esse de vita et societate nostra, oportet quod expropries te de omnibus tuis quae sine scandalo habere potes, et des ea panperius(cfr. Mat 19,21)secundum consilium sancti evangelii, quia illud idem fecerunt omnes fratres mei qui potuerunt”.
8 Quo audito, statim ivit ad agrum ubi dimiserat boves, et solvit illos. Et duxit unum coram beato Francisco, dicens ei: “Frater, tot annis servivi patri meo et omnibus de domo mea: 9 et licet sit parva haec portio hereditatis meae, volo hunc bovem accipere pro parte mea, et ipsum dare pauperibus, sicut melius tibi videbitur”.
10 Videntes autem parentes ejus et fratres sui, qui erant adhuc parvi, quod volebat eos dimittere, coeperunt omnes de domo sua tam fortiter lacrimari et tam dolorosas voces cum planctu emittere quod inde motus est beatus Franciscus ad pietatem, quia magna familia et imbecillis erat. 11 Et ait ad illos beatus Franciscus: “Parate comestionem pro omnibus nobis et comedamus omnes simul, et nolite plangere quia vos faciam valde laetos”. Illi autem statim paraverunt et comederunt omnes simul cum magna laetitia.
12 Post comestionem vero dixit eis beatus Franciscus: “Iste filius vester vult servire Deo, et de hoc non debetis contristari sed plurimum gaudere. 13 Vobis enim, non tantum secundum Deum sed etiam secundum istud saeculum, imputatur ad magnum honorem et profectum animarum et corporum, quia de carne vestra honoratur Deus; et omnes fratres nostri erunt vestri filii et fratres. 14 Et quia creatura Dei est et suo creatori vult servire, cui servire regnare est, non possum nec debeo ipsum reddere vobis; 15 sed, ut de ipso habeatis consolationem, volo quod ipse expropriet se vobis de isto bove tanquam pauperibus; licet deberet ipsum dare allis pauperibus (cfr. Mat 19,21) secundum evangelium”. 16 Et consolati sunt omnes in verbis beati Francisci, et maxime laetati sunt de bove qui redditus fuit eis, quia pauperes erant valde.
17 Et quia beato Francisco nimis placebat pura et sancta simplicitas in se et in aliis, statim ut induit eum pannis religionis, ducebat ipsum secum humiliter pro socio suo. 18 Erat enim ille tantae simplicitatis quod ad omnia quae faciebat beatus Franciscus credebat se teneri. Unde quando beatus Franciscus stabat in aliqua ecclesia, vel in aliquo loco ad orandum, et iste volebat eum videre, ut omnibus actibus et gestibus ejus se penitus conformaret. 19 Ita quod si beatus Franciscus flectebat genua, vel levabat manus ad caelum (cfr. Deut 32,40) vel sputabat, vel tussibat, vel suspirabat, et ipse omnia similiter faciebat. 20 Cum autem perpendisset de hoc beatus Franciscus, coepit ipsum de hujusmodi simplicitatibus cum magna laetitia reprehendere. 21 Cui ille respondit: “Frater, ego promisi facere omnia quae tu facis, et ideo oportet me tibi in omnibus conformari”. 22 Et de hoc mirabatur et laetabatur mirabiliter beatus Franciscus, videns ipsum in tanta puritate et simplicitate.
23 Ipse vero postea coepit in omnibus virtutibus et moribus bonis in tantum proficere quod beatus Franciscus et alii fratres omnes de ipsius perfectione plurimum mirabantur. Et post modicum tempus mortuus est in illo sancto profectu virtutum. 24 Unde postea beatus Franciscus cum multa laetitia mentis et corporis inter fratres narrabat ejus conversationem, nominando ipsum non fratrem Iohannem sed sanctum Johannem.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 57

Capítulo 57. O camponês que o encontrou varrendo humilde­mente a igreja e, convertido, entrou na ordem e foi um santo frade. 

1 Tendo ido à igreja de uma vila da cidade de Assis, co­meçou a varrê-la humildemente e limpá-la. Saiu imediatamente, a notí­cia sobre ele por toda a vila, pois com prazer era visto por aquelas pessoas, e ouvido com prazer ainda maior. 2 Assim que ou­viu isso, um camponês de admirável simplicidade, chamado João, que estava arando em seu campo, dirigiu-se logo a ele e o encon­trou varrendo a igreja humilde e devotamente. 3 E lhe disse: “Ir­mão, dá-me a vassoura, pois quero te ajudar”. E, recebendo a vas­soura de suas mãos, varreu o que faltava.
4 Sentaram-se juntos, e ele disse ao bem-aventurado Francisco: “Irmão, já faz tempo que tenho vontade de servir a Deus, especi­almente depois que ouvi falar de ti e dos teus frades, mas não sa­bia como chegar a ti. 5 Por isso, agora que agradou ao Senhor que eu te visse, quero fazer o que te agradar”.
6 Considerando o seu fervor, o bem-aventurado Francisco exultou no Se­nhor, principalmente porque naquele tempo tinha poucos frades e lhe parecia que, por sua simplicidade e pureza, deveria ser um bom religioso. 7 Então lhe disse: “Irmão, se queres participar de nossa vida e companhia, é preciso que te desfaças de tudo que pode ter sem escândalo e  dês tudo aos pobres (cf. Mt 19 ,21), conforme o conselho do santo Evangelho, pois assim fizeram todos os meus frades que puderam”.
8 Ouvindo isso, voltou logo para o campo, onde tinha deixado os bois, e os soltou. Levou um a São Francisco e disse: “Ir­mão, por muitos anos servi a meu pai e a todos os de minha casa. 9 Embora seja pequena esta porção de minha herança, quero rece­ber este boi como minha parte e dá-lo aos pobres, segundo me­lhor te parecer”.
10 Mas vendo que queria deixá-los, seus pais e seus irmãos, que eram ainda pequenos, e todos os de sua casa começaram a chorar tão fortemente e a erguer vozes tão dolorosas que o bem-aventurado Fran­cisco se moveu de piedade, porque era uma família gran­de e de poucos recursos. 11 Disse-lhes: o bem-aventurado Francisco: “Preparai uma refeição para todos nós, comamos todos juntos, e não choreis, porque vou deixá-los bem alegres”. Eles logo prepararam e come­ram todos juntos com grande alegria.
12 Depois da refeição, disse-lhes o bem-aventurado Francisco: “Este vosso fi­lho quer servir a Deus, e disso não deveis entristecer-vos, mas alegrar-vos muito. 13 Com efeito, não só diante de Deus mas também diante deste século, a vós é dada uma grande honra e proveito para as almas e os corpos, pois Deus é honrado com vossa carne e todos os nossos frades serão vossos filhos e ir­mãos. 14 Não posso nem devo devolvê-lo a vós, porque é criatura de Deus e ele quer servir a seu criador, a quem servir é reinar. 15 Mas, para terdes dele um consolo, quero que ele ceda a vós este boi que lhe pertence, porque sois pobres, embora, segundo o Evangelho, deveria dá-lo a outros pobres” (cf. Mt 19,21). 16 E to­dos ficaram consolados com as palavras do bem-aventurado Francisco e se alegraram, sobretudo pelo boi que lhes foi devolvido, porque eram muito pobres.
17 E como agradava muito ao bem-aventurado Francisco a pura e santa simplicidade, em si e nos outros, imediatamente o vestiu com as roupas da religião e o levava humildemente consigo, como seu companheiro. 18 Pois ele de uma simplicidade tão grande que tinha que fazer tudo que o bem-aventurado Francisco fazia. Assim, quando São Francisco estava a rezar numa igreja ou em outro lugar, ele queria vê-lo, para conformar-se exatamente em todos os seus atos e gestos. 19 De modo que, se São Francisco dobrava os joe­lhos, ou elevava as mãos ao céu (cf. Dt 32,40), ou cuspia, ou tos­sia, ou suspirava, também ele fazia tudo parecido. 20 Quando o bem-aventurado Francisco percebeu isso, começou a repreendê-lo com grande alegria por essas simplicidades. 21 Mas ele lhe respondeu: “Irmão, prometi fazer tudo o que tu fazes e, então, preciso ser con­forme a ti em tudo”. 22 Vendo-o tão puro e simples, o bem-aventurado Francisco ficou muito admirado e contente.
23 De fato, depois ele começou a progredir tanto em todas as virtudes e bons costumes que o bem-aventurado Francisco e todos os outros frades se admiravam muito de sua perfeição. Pouco tempo depois, ele morreu naquele santo progresso de virtudes. 24 Por isso, mais tarde, quando, com muita alegria interior e exterior, o bem-aventurado Francisco falava com os frades sobre o seu comportamento, não o chamava de Frei João, mas de São João.