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TEXTO ORIGINAL

Legenda Versificata - 5

V - De ortu et conversatione in domo paterna. 

Eius tenporibus, celo sua dona pluente, 
Edidit Asisium florem sydusque novellum, 
Claram, qua floret, qua claret mundus, et ordo 
Virgineus quondam premortuus orbe revixit; 
Cuius odore novo, cuius splendore beato 
Preredolet patria, provincia tota coruscat. 
Fertilis Asisii tellus generosaque vitis, 
Duplice sub fructu gaudens, sub palmite bino 
Pollens, emicuit in mundo mistica Bethlem. 
Illa tulit Christum, Franciscum nobile Christi 
Edidit hec me[m]brum; de miro Virginis illa 
Preradiat partu, micat hec sub virginis ortu. 
Exiit ut rutilans lampas hec virgo pudica, 
Sanguine conspicua, claris natalibus orta. 
Istius genitrix fuit Ortola[na] vocata, 
Nobilibus pollens studiis, pietatis amica. 
De radice bona florescens vi[r]gula crescit: 
Flore de dulci nascuntur dulcia poma, 
Fructiferam glebam conmendat fructus opimus. 
Ex hac dum gravida nimium paritura timeret 
Mater et oraret, sonuit vox auribus eius: 
‘Ne timeas; salva divino munere, quoddam 
Parturies lumen, cuius fulgore moderno 
Clarescet mundus’. Ex huius federe verbi 
Clara vocata fuit a sacri fluminis unda, 
Ut vox ipsa rei vel res sit consona voci. 
Hec velud aurora surgens quasi luce modesta, 
Paulatim cepit studiis clarescere mentis; 
Utque capax fuerat infantia virginis, utque 
Ipse requirebat sensus puerilis, eam sic 
Spiritus afflabat, sic perficiebat in actu. 
Filia de more sequitur vestigia matris: 
Mente vigil, docilis animo, prelucida sensu, 
Que teneris annis matris suscepit ab ore 
Pectore sincero fidei primeva recondens, 
Se Domino tenplum iam principiare studebat; 
Utque Dei cultus et vite celibis actus 
Primevum tenpus teneros prescriberet annos, 
Puro conceptu mentis satagebat, ut intus 
Posset et exterius se Christo primitiare. 
Pauperibus tribuens manus insudabat, et intus 
Orans attente Domino se thurificabat; 
Sepe Pater noster parvis numerando lapillis, 
Invigiles Domini laudes cantare solebat; 
Dum reficit miseros, heret dum mente supernis 
Prosequitur Martham simul est anplexa Mariam. 
Mollia iam spernens et mollibus aspera celans, 
Induit ad carnem lane pungnentis amictum. 
Cunque viro vellent hanc desponsare parentes, 
Respuit, in sponsi spirans conubia Christi, 
Cuius delicias iam pregustarat amenas, 
Cuius in amplexus et in oscula digna pudore 
Virgineo, gustu mentis suspensa suisque 
Dulcorata favis, eius languebat amore. 
O deitatis opus, o dispensatio summa 
Summi conscilii! mentem quam compluis, illam 
Prepurgas vitiis, celesti nectare condis, 
Mulces, dulcoras, flamma succendis amoris, 
A terris retra[h]is, vehis ad celestia; quod sic 
ula sit ipsa tua, sit tenplum, mansio, sedes, 
Et veniens maneas, recubes, pascas, requiescas!

TEXTO TRADUZIDO

Legenda Versificada - 5

V – Nascimento e comportamento na casa paterna. 

Em seu tempo, chovendo os céus os seus dons, Assis produziu uma flor e astro novo, Clara, pela qual floresce e clareia o mundo, e a ordem de virgens, outrora quase morta, reviveu com o seu perfume novo, com o seu esplendor feliz. Ficou toda cheirosa a pátria, brilhou a província inteira. A terra fértil e a vinha generosa de Assis, alegrando-se com dois frutos, enriquecida com dupla palma, brilhou no mundo como uma mística Belém. 
Aquela produziu Cristo; esta deu Francisco, nobre membro de Cristo. Aquela irradiou-se pelo parto admirável da Virgem; destaca-se esta pelo nascimento de uma virgem. 
Esta virgem pudica saiu como uma lâmpada rutilante, notável pelo sangue, nascida de nobre estirpe. Sua mãe chamava-se Hortolana, gozava de nobres estudos, era amiga da piedade. Brotando de uma nobre raiz, a virgenzinha cresceu: de uma doce flor procedem doces frutos, uma terra fértil é recomendada pelos frutos abundantes. 
Quando estava grávida dela, como teve muito medo do parto, a mãe estava orando e ressoou uma voz em seus ouvidos: “Não temas, salva por graça divina, vais dar à luz uma luz por cujo moderno fulgor vai ser iluminado o mundo”. 
Por causa dessa palavra, recebeu o nome de Clara na água do rio sagrado, para que o nome concordasse com o fato, ou o fato com a palavra. Ela foi uma aurora que surgiu com luz modesta e aos poucos foi se tornando mais clara pelos esforços da mente, na medida da capacidade da infância da virgem. Assim a insuflava o Espírito, assim cumpria de fato. 
A filha habitualmente segue os vestígios da mãe. De mente atenta, dócil de ânimo, com sentido muito lúcido, o que recebeu da boca da mãe em seus verdes anos, guardando no coração sincero as primícias da fé, já tratava de fazer de si mesma um templo para o Senhor, de modo que o culto a Deus e a prática da vida célibe passasse o tempo primevo dos anos mais tenros, buscava, na concepção pura da mente, que pudesse dar-se como primícias para Cristo, interior e exteriormente, 
Trabalhava com as mãos para ajudar os pobres e, orando atentamente, oferecia-se interiormente como incenso ao Senhor. 
Muitas vezes, contando pai-nossos com pedrinhas, costumava cantar os louvores do Senhor sem descansar. Enquanto alimentava os miseráveis, mantinha a mente nas coisas do alto, seguindo Marta e, ao mesmo tempo, abraçando Maria. Desprezando já as coisas moles e escondendo as ásperas com as moles, vestia a carne com roupa de lã picante. 
Quando os pais quiseram que ela se casasse com um homem, negou-se, desejando os esponsais com Cristo esposo, cujas agradáveis delícias já pudera provar, em seus abraços e beijos, signos do pudor de uma virgem, suspensa pelo prazer da mente e sentindo-se doce por seus favos, enlanguescia por seu amor. 
Ó obra da divindade, ó entrega máxima do conselho supremo! A mente em que desceis como chuva é por vós purificada dos vícios, vós a refazeis com o néctar celeste, suavizais, adoçais, acendeis na chama do amor, arrancais da terra, carregais para os céus para que assim seja um espaço vosso, seja templo, mansão, sede, e possais vir, permanecer, deitar-vos, comer e descansar.