Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Vita Sancti Francisci - 37

Caput VIII - Quomodo volucribus praedicavit; et qualiter bruta sibi animalia obediebant et ad ipsum secure confugiebant, et de aqua in vinum sibi conversa. 

37.

1 Beatus Franciscus, vir columbina simplicitate plenissimus dum more solito quadam vice per vallem Spoletanam transitum faceret accidit ut non longe a castello, cui nomen Mevanium multitudinem magnam diversi generis avium convolasse videret.

2 Et quoniam ob praecipuum Creatoris amorem miro in omnes ducebatur affectu, sociis in via relictis, alacriter contra locum ubi stabant adunatae cucurrit, easque, prout ei consuetutudinis erat, veluti rationis humanae participes salutavit.

3 Videns autem quod propter ipsum loco non cederent, admirans usque ad illas accessit.

4 Repletus itaque gaudio magno, vir Dei sollicite illas ad audiendum Domini verbum intendere monuit,

5 et his similia simpliciter eis inter alia plura proposuit: ”Fratres mei volucres, multum tenemini vestrum laudare et diligere Creatorem,

6 qui plumis vos induit, qui pennis a terra vos subvehit, qui vobis inter creaturas nobilius in puriore mansiones aëre tribuit;

7 qui nec serentes nec metentes, nec in horrea congregantes (cfr. Mat 6,26), absque vestra sollicitudine vos enutrit et abundanter in omnibus quae vobis sunt opportuna providit”.

8 Ipsae vero aviculae, rostris apertis, alis collisque protensis, suo modo mirabiliter gestientes, sanctum Dei talia proponentem intuebantur, et verbis suis diligenter intendere videbantur.

9 Sanctus vero Franciscus, per medium illarum transiens (cfr. Luc 4,30) et revertens, tunica eas tangebat ut voluit;

10 nec illis quidem se prius a loco moventibus, donec benedictione cum signo crucis et licentia eis data, similiter ipse recessit.

11 Tunc coepit se magnae negligentiae coram fratribus incusare, eo quod hactenus omiserat avibus praedicare.

12 Igitur ab illo tempore vir Dei, cuius ori semper laus affuit, laus utique Salvatoris, non solum homines ut laudarent ipse laudans admonuit,

13 sed et aves et bestias et quaslibet creaturas alias, fratrum vel sororum nominibus nuncupans ad omnium Conditoris laudem sollicitus invitavit.

TEXTO TRADUZIDO

Vida de São Francisco - 37

Capítulo VIII - Como pregou aos pássaros; como os animais selvagens lhe obedeciam e se refugiavam junto a ele com segu­rança; e a água que ele transformou em vinho. 

37.

1 O bem-aventurado Francisco, impregnado de uma simplicidade de pomba, andava uma vez, como era seu costume, pelo vale de Espoleto, quando aconteceu que, num lugar não longe de uma vila chamada Bevagna, viu que se ajuntava grande quantidade de aves de várias espécies.

2 E como, por especial amor ao Cria­dor, ele tinha um amor admirável por todas as criaturas, deixou os companheiros na estrada, correu alegremente para o local onde as aves estavam reunidas e, conforme o seu costume, saudou-as como se fossem dotadas de razão humana.

3 Vendo que os pássaros não se afastavam por causa disso, aproximou-se deles admirado.

4 Por isso, cheio de alegria, o homem de Deus os aconselhou com solicitude a ouvir a palavra do Senhor,

5 e entre muitas outras coisas, disse-lhes com simplicida­de: “Meus irmãos pássaros, deveis louvar e amar mui­to o vosso Criador,

6 porque vos revestiu de penas e com as asas vos ergue da terra; porque vos dá uma habitação no ar puro, mais nobremente que às outras criaturas;

7 porque sem semear nem colher nem fazer provisões em celeiros (Mt 6,26), sem preocupação da vossa parte ele vos nu­tre e vos provê com abundância de tudo o que necessitais”.

8 Os passarinhos, de bicos abertos, asas e pescoços estendidos, mexendo-se belamente como costumam, olhavam para o santo de Deus que lhes propunha essas coisas e pareciam prestar muita atenção a suas palavras.

9 Passando pelo meio deles (Lc 4,30) e voltando, São Francisco tocava-os com a túnica como queria,

10 e eles não se afastaram dali senão quando ele também se retirou, depois de abençoá-los com o sinal-da-cruz e dar-lhes licença de ir embora.

11 Então, diante dos irmãos, ele começou a acusar-se de gran­de negligência, porque não tinha pregado antes às aves.

12 Por isso, desde esse tempo, o homem de Deus, em cuja boca sem­pre estava o louvor, o louvor do Salvador, é claro, ad­moestava não só os homens a louvarem o Senhor como ele o lou­vava,

13 mas também convidava a louvar solicitamente o Criador de todos as aves, os animais e todas as criaturas, chamando-as de irmãos e irmãs.