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TEXTO ORIGINAL

Cronica de Frei Tomás de Eccleston - 104

104. In officio divino extitit semper devotissimus et clausis oculis evagationem mentis evitabat. In societate fratrum semper hilaris et iocundus omnium ad se convertit affectum.

Unde cum minutus fuisset aliquando cum conventu, talem inter socios proposuit parabolam, propter novitium quendam praecipue, qui praesens erat, qui nimis sapiens erat in oculis propriis et praesumpsit intromittere se de impertinentibus. Rusticus, inquit, quidam audiens, quod tanta quies esset et tot deliciae in Paradiso, profectus est, ut quaereret ubi esset, si forte aliquo modo posset intromitti. Et cum tandem pervenisset ad portam, invenit sanctum Petrum et ingressum petiit, a quo cum quaereret Petrus, si leges Paradisi custodiri posset et proponeret, dixit quod sic, dummodo eas sibi dicere dignaretur. Dixit igitur Petrus, quod solummodo servaret silentium. Quod cum libenter annueret, intromissus est; et pergens per Paradisum vidit quendam arantem cum duobus bobus, uno macilento et alio pingui, et pinguem permisit ire sicut libuit et macilentum semper stimulavit.

Et accurrens redarguit eum. Et statim affuit sanctus Petrus et voluit eum expellere: pepercit tamen ei illa vice et praecepit, ut sibi caveret. Et statim profectus inde, vidit hominem portantem lignum longum, et voluit ingredi domum et semper vertit lignum ex transverso ostii; et accurrens docuit eum, ut praeponeret unum caput ligni. Et statim affuit sanctus Petrus et voluit eum modis omnibus expellere; pepercit tamen ei et illa vice. Tertio profectus inde vidit hominem secantem ligna in silva; et semper pepercit veteribus truncis et curvis roboribus, et prostravit et dissecuit recta et viridia et quaecumque pulcherrima. “Et accurrens increpavit eum. Et statim affuit sanctus Petrus et expulit eum. Voluit autem, ut subditi superiores suos ubique haberent in reverentia, dicens: “Absit ut familiaritas pariat contemptum”.

TEXTO TRADUZIDO

Crônica de Frei Tomás de Eccleston - 104

104. No oficio divino, ele se mantinha sempre muito devoto e, com os olhos fechados, evitava a divagação da mente. Sempre risonho e agradável na companhia dos frades, atraía a si o afeto de todos.

Uma vez, quando houve sangria no convento, ele propôs aos companheiros esta parábola, especialmente por causa de um noviço que estava presente, demasiado sábio aos próprios olhos e que ousava intrometer-se a respeito com coisas impertinentes. Disse que um camponês, ao ouvir que no Paraíso havia tanta tranqüilidade e tantas delícias, partiu para procurar onde era e ver se havia um modo de entrar lá. Quando chegou à porta, encontrou São Pedro e pediu para entrar; quando Pedro quis saber dele se poderia e se estaria disposto a guardar as leis do Paraíso, ele disse que sim, contanto que se dignasse dizer o que era. Então Pedro disse que bastava ficar em silêncio. Como concordou livremente, foi introduzido; e andando pelo Paraíso, viu alguém arando com dois bois, um magro e um gordo: deixava o gordo andar como queria e sempre aguilhoava o magro.

Foi lá e o recriminou. Na mesma hora São Pedro apareceu e queria expulsá-lo. Mas perdoou aquela vez e mandou tomar cuidado. Partiu logo dali e viu um homem carregando uma viga comprida e queria entrar numa casa mas sempre virava a viga transversalmente à porta. Foi lá e o ensinou a enfiar primeiro uma ponta da viga. Na mesma hora São Pedro apareceu e queria expulsá-lo de qualquer jeito. Mas perdoou-o também esta vez. Pela terceira vez, saiu dali e viu um homem que cortava lenha no bosque: ele sempre poupava os troncos velhos e árvores tortas e derrubava e cortava as retas, as verdes e as mais bonitas. Foi lá e o censurou. Logo apareceu São Pedro, e o expulsou. Ele queria que os súditos fossem reverentes com seu superior em qualquer lugar: “Deus não permita que a familiaridade gere o desprezo!”