Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Crônica de Jordão de Jano

TEXTO ORIGINAL

Chronica Fratris Iordani - 49

49 Fratre vero Jacobo bonae memoriae defuncto, fratres Saxoniae non modicum turbati (supplicaverunt) fratri Alberto de Pisa, ministro Theutoniae, ut ipsis de custode dignaretur misericorditer providere. Minister autem, cum proponeret eis fratrem Nicolaum, guardianum Erfordiensem, mittere pro custode, sciens eius humilitalem, litteras ei mittere non praesumpsit, timens, quod officium ex humilitate non reciperet, sed potius ad ipsum recurreret. Et ideo decrevit ad ípsum personaliter accedere, si forte ex familiari allocutione ad recipiendum officium eius posset animum inclinare. Minister vero Erfordiam veniens, vocato ad hoc fratre Iordano coepit loqui cum fratre Nicolao de officio custodiae Saxoniae recipiendo. Ipse vero humiliter se excusavit, et se in officiis omnibus insufficientem affirmante, utpote qui etiam nec numerare nec computare sciret nec dominus esse ac praelatus, minister ipsum cepit in verbo et animo quasi indignanti dixit ei: “Nescis ergo dominus esse, dominus - numquid ergo domini sumus, qui officia Ordinis tenemus? Dic, ergo, frater, cito culpam tuam, quod officia Ordinis, quae magis onera et servitutes dici possent, dominia et praelationes reputasti”.
Cui humiliter dicenti culpam minister custodiam Saxoniae ei in poenitentiam dedit, et ipse, sicut semper consuevit, flexis genibus humiliter obedivit. Super cuius obedientia fratres admodum gavisi, in ecclesia sancti Spiritus, apud quam tunc manebant, fratres solemnizaverunt, fratre Nicolao missam ferialiter et mente lugubri decantante. Factus ergo custos Saxoniae tertius, humilitatem, quam tenere coepit, in officio constitutus non deseruit, sed ad scutellas et ad pedes fratrum lavandos humillimus semper et primus fuit. Et si fratri pro culpa sua super terram sedere aut disciplinam imponebat, eandem poenilentiam cum ipso humillimus exsolvebat. Et licet humilitatem et obedientiam ipsemet in omnibus servaverit, adeo tam vindex et ultor pertinacis inobedientiae fuit, ut fratrem pertinaciter inobedientem etiam cum poenitentia difficulter ad gratiam reciperet, tantum malum reputans fratris inobedientiam et tantum bonum obedientiam, ut et facto et exemplo ostenderet, fratres debere in omnibus simpliciler obedire.

TEXTO TRADUZIDO

Crônica de Jordão de Jano - 49

49 Tendo falecido Frei Tiago, de feliz memória, os irmãos da Saxônia, não pouco perturbados, suplicaram a Frei Alberto de Pisa, ministro da Alemanha, que se dignasse misericordiosamen­te nomear-lhes um custódio. O ministro, porém, como tivesse o propósito de enviar-lhes como custódio Frei Nicolau, guardião de Erfurt, conhecendo a humildade dele, não ousou mandar-lhe uma carta, temendo que por humildade não aceitasse o oficio, mas que antes recorresse a ele. Por isso, resolveu dirigir-se a ele pessoalmente, esperando que a partir de uma con­versa familiar pudesse dobrar sua decisão para aceitar o cargo. O ministro, chegando a Erfurt, depois de ter chamado para isso Frei Jordão, começou a falar com Frei Nicolau sobre a aceitação do oficio de custódio da Saxônia. Ele, porém, se escu­sou humildemente, afirmando que era absolutamente incapaz, pois não sabia nem lidar com números nem fazer contas nem ser senhor ou prelado; o ministro o pegou na palavra e, quase indignado, disse-lhe: “Portan­to, não sabes ser senhor. E por acaso somos senhores nós, que te­mos cargos na Ordem? Portanto, irmão, confessa depressa a tua culpa, porque julgaste domínios e prelaturas os ofícios da Ordem, que era melhor chamar de pesos e serviços”.
Quando ele confessou humildemente sua culpa, o ministro deu como penitência a custódia da Saxônia; e ele, como de costume, pondo-se de joelhos, obedeceu humildemente. Os frades, extremamente contentes por sua obediência, na igreja do Espírito Santo, junto à qual eles então moravam, soleni­zaram a missa, cantando-a Frei Nicolau em tom ferial e com jeito melancólico. Nomeado, portanto, terceiro custódio da Saxô­nia e constituído no oficio, não abandonou a humildade que tinha no início, mas foi sempre o mais humilde e o primeiro para lavar os pratos e os pés dos irmãos. E, se impunha ao irmão por culpa sua sentar-se por terra ou se lhe impu­nha uma disciplina, muito humilde cumpria com ele a mesma pe­nitência. E embora ele mesmo conservasse a humildade e a obe­diência em tudo, no entanto, foi tão exigente e castigador da deso­bediência pertinaz que dificilmente recebia às boas graças o irmão pertinazmente desobediente, mesmo com penitência; jul­gava tão grande mal a desobediência e tão grande bem a obediên­cia que mostrava por obra e por exemplo que os irmãos devem obedecer simplesmente em tudo.