Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

  • Fontes Franciscanas
  • Crônicas
  • Crônica de Jordão de Jano

TEXTO ORIGINAL

Chronica Fratris Iordani - 18

18 Erat autem tunc temporis quidam frater in capitulo, qui consuevit in orationibus suis Domino supplicare, ne sua fides corrumperetur ab hereticis Lombardie aut a fide mutaretur per ferocitatem Theutonicorum et ut ab utrisque ipsorum dignaretur Dominus misericorditer liberare. Qui videns multos fratres surgere paratos ad eundum in Theutoniam, estimans eos statim a Theutunicis martirizandos et dolens, quod fratres missos in Hyspaniam et martirizatos nominetenus non noverat, volens in istis cavere, quod sibi acciderat in illis, surgens de medio omnium ivit ad illos, discurrens per singulos et querens: “quis es et unde es”, estimans gloriam magnam esse, si ipsos martirizari contingeret, quod dicere posset: “illum novi et illum novi”.
Inter quos fuit quidam frater nomine Palmerius dyaconus, qui postea in Magdeburch gardianus factus est, vir iocundus et hylaris, de finibus Apulie de monte Gargano oriundus. Ad quem cum frater ille curiosus venisset et interrogasset, quis es et quis vocaris, et ille respondisset: “Palmerius vocor”, iniecta ei manu subintulit: “Et tu ipse noster es et nobiscum ibis”, volens ipsum secum ducere ad Theutonicos, pro quo Dominum rogaverat iam pluries, ut ipsum mitteret, quo vellet preter ad ipsos. Et ille nomen Theutonicorum abhorrens respondit: “Non sum de vestris, sed nosse volens vos ad vos veni, non animo vobiscum eundi.” Et ille iocunditate sua prevalens ipsum detinuit et renitentem et verbis et factis ad terram secum detraxit et inter alios secum sedere coegit.
Et interim, cum hec agerentur et inter alios detineretur ille frater curiosus, asscriptus est alii provincie et proclamatur: “Talis frater vadat ad talem provinciam”. Interim autem cum fratres illi 90 expectarent responsum, datus est minister Theutonie frater Cesarius Theutunicus, de Spirea, ut dictum est, natus, habens potestatem eligendi de illis 90 quos vellet. Et cum fratrem illum curiosum inter alios invenisset, monitus est ab aliis, ut [et] ipsum secum duceret. Et cum ad Theutonicos invitus iret et constanter diceret: “Non sum de vestris, quia animo eundi cum illis non surrexi”, ductus est ad fratrem Helyam.
Fratres autem provincie illius quibus asscriptus fuerat, hoc audientes, eo quod debilis esset et terra ad quam ibat frigida, ipsum retinere contendebant. Frater autem Cesarius ipsum secum ducere modis omnibus affectabat. Quam litem frater Helyas sic diremit dicens: “Precipio tibi. frater per sanctam obedienliam, ut deliberes finaliter an ire velis an dimittere”.
At ille per obedientiam constrictus, cum dubitaret, quid ageret, eligere timuit propter conscientiam, ne si eligeret, voluntatis sue esse videretur. Ire timuit propter Theutonicorum crudelitatem, ne si in passionibus patienciam perderet, in anima periclitaretur. Et ita inter utrumque perplexus et consilium in semetipso non inveniens accessit ad fratrem multis tribulacionibus probatum qui XV vicibus bracas in Ungaria perdiderat, ut dictum est, et ab eo consilium requisivit dicens: “Frater karissime, sic mihi preceptum est, et eligere timeo et, quid agam, ignoro.”
At ille: “Vade ad fratrem Helyam et dic: Frater, nec ire volo nec manere, sed quidquid mihi preceperis, hoc faciam. Et ita te ab hac perplexitate liberabis”. Quod et fecit.
Quo audito frater Helyas precepit ipsi in virtule sancte obedientie, ut cum fratre Cesario in Theutoniam properaret. Iste est frater Jordanus de Yane, qui hoc vobis scribit, qui tali eventu in Theutoniam venit, qui furorem Theutonicorum, quem horruit, evasit, qui ordinem Minorum cum fratre Cesario et aliis fratribus primitus in Theutonia plantavit.

TEXTO TRADUZIDO

Crônica de Jordão de Jano - 18

18 Nessa ocasião, estava no Capítulo um frade que em suas orações costumava suplicar ao Senhor que sua fé não fosse corrompida pelos hereges da Lombardia ou que ele mudasse de fé pela crueldade dos alemães e que o Senhor se dignasse misericordiosamente libertá-lo de uns e de outros. Vendo muitos frades se levantarem preparados para ir para a Alemanha, julgando que seriam logo martirizados pe­los alemães e lamentando-se por não ter conhecido pelo nome os irmãos enviados para a Espanha e martirizados, querendo evitar que com esses acontecesse o que acontecera com os outros, levantando-se do meio de todos, foi até eles, passando um por um e perguntando: “Quem és e de onde és?”, julgando ser grande glória se acontecesse que eles fossem martirizados e que ele pudesse dizer: “Conheci este, conheci aquele”.
Entre eles ha­via um frade chamado Palmério, diácono, que depois foi feito guardião em Magdeburgo, homem bem humorado e alegre, dos confins da Apúlia, oriundo do Monte Gargano. Quando o frade curioso chegou até ele e perguntou “quem és e como te chamas”, ele respondeu: “eu me chamo Palmério”, e, agarrando-o com a mão, acrescentou: “E tu também és nosso e irás conosco”, querendo levá-lo consigo para a Alemanha, já que ele havia roga­do muitas vezes a Deus que o enviasse para onde quisesse, menos para o meio dos alemães. Ele, com horror do nome dos ale­mães, respondeu: “Não sou dos vossos; vim até vós para vos conhecer, não para ir convosco”. O outro, vencendo por seu bom humor, puxou-o para o chão e, por palavras e ações, e obrigou-o a sentar-se com ele no meio dos outros, apesar de sua resistência.
Nesse meio tempo, enquanto isso acontecia e o frade curioso foi segurado, alistaram-no em outra província proclamando: “Tal irmão vá para tal província”. Entretanto, como os noventa frades esperavam uma resposta, o alemão Frei Cesário, oriundo de Espira, como já dissemos, foi dado como ministro da Alemanha, com a faculdade de escolher entre os noventa quem ele quisesse. Tendo encontrado o frade curioso entre os outros, foi aconselhado por eles a levá-lo consigo. Como ele iria contra a vontade para a Alemanha e dizia constantemente “não sou dos vossos, porque não me levantei para ir convosco”, foi levado a Frei Elias. 
Ouvindo isso, os frades da província a que ele fora agregado esforçavam-se para retê-lo, porque era fraco e ia para uma terra fria. Frei Cesário, porém, procurava levá-lo consigo por todos os modos. Frei Elias resolveu a questão, dizendo: “Ordeno-te, irmão, pela santa obediência, que deliberes definitivamente se queres ir ou desistir”.
E ele, obrigado pela obediência, com dúvidas do que devia fazer, ficou com medo de escolher por ter consciência de que, se escolhesse, pareceria ser por sua vontade. Temia ir por causa da crueldade dos alemães, com medo de pôr em perigo a alma, se nos sofrimentos perdesse a paciência. E assim, perplexo entre uma coisa e outra e não encontrando em si mesmo uma decisão, dirigiu-se ao irmão provado em muitas tribulações, aquele que perdera as calças quinze vezes na Hungria, como dissemos, e pediu-lhe conselho, dizendo: “Irmão caríssi­mo, assim me foi ordenado, mas tenho medo de escolher e não sei o que fazer”.
E ele: “Vai a Frei Elias e dize-lhe: ‘Irmão, não quero ir nem ficar, mas vou fazer o que me mandares. E assim te libertarás desta perplexidade”. Foi o que ele fez.
Ouvido isso, Frei Elias mandou, em virtude da santa obediência, que fosse logo com Frei Cesário para a Alemanha. Este é Frei Jordão de Jano, que vos escreve isto, que por esse acontecimento veio para a Alemanha, que escapou do furor dos alemães, de que tinha pavor, e com Frei Cesário e com outros frades plantou no início a Ordem dos Menores na Alemanha.