Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Espelho da Perfeição Menor

TEXTO ORIGINAL

Speculum Perfectionis (minus) - 37

[37]
1 Cum beatus Franciscus ad predicandum micteret fratres per provincias ad predicandum penitentiam, dixit illis: 2 “In nomine Domini ite bini et bini (cfr. Luc 10,1) honeste per viam et maxime cum silentio a mane usque post tertiam, orantes semper in cordibus vestris (cfr. Col 3,16) Dominum, et verba otiosa (cfr. Mat 12,36)vel inutilia nec nominentur in vobis (cfr. Eph 5,3); 3 licet enim ambuletis, tamen conversatio vestra sic sit honesta quodammodo, quasi si in eremitorio aut cella permaneretis, quoniam ubicumque sumus et ambulamus, habemus cellam nobiscum; 4 frater enim corpus est cella nostra, et anima est eremita, que moratur intus in cella ad orandum Deum et meditandum. 5 Unde, si anima non manserit in quiete et solitudine, in cella sua, parum prodest religioso cella manu facta”.
6 Cum quadam die predicaret beatus Franciscus, dicebat eis: “Loquor vobis sicut vinctis demoniorum, quoniam vosmetipsos ligatis et venditis vos tamquam animal ad forum propter miseriam vestram; 7 quoniam exponitis vos voluntati eorum, qui destruxerunt et destruunt se ipsos et totam civitatem destruere volunt”.
8 Tempore illius capituli, quo primum missi fuerunt fratres ad quasdam provincias ultramontanas, finito capitulo dixit beatus Franciscus: 9 “Carissimi fratres, me oportet esse formam et exemplum omnium fratrum. 10 Si ergo misi fratres meos in longinquis partibus ad laborem et verecundiam, ad famem et alias plures necessitates substinendas, iustum michi videtur, ut ego vadam ad aliquam remotam provinciam, 11 maxime ut fratres tribulationes suas magis patienter supportent, cum audierint, illud idem me supportare”. 12 Et facta oratione, ut moris sui erat in omnibus agendis, dixit: “In nomine Domini et Matris sue et omnium sanctorum eligo provinciam Francie, 13 maxime quia inter catholicos sancte Ecclesie reverentiam mangnam exibent corpori Christi, quod michi plurimum gratum est, propter quod libentius cum illis conversabor”.
14 Et accepit inter alios socium fratrem Silvestrum sacerdotem, hominem Dei et magne fidei et multe simplicitatis et puritatis, quem sanctus pater venerabatur ut sanctum.
15 Cumque pervenisset Florentiam, invenit ibi dominumHugonem cardinalem, episcopum Hostiensem, qui postea fuit papa, qui gavisus de sancto, et sciens quo iret noluit quod iret; 16 unde dixit ei sanctus pater: “Domine, magna verecundia est michi, cum miserim fratres meos ad remotas partes, permanere in istis provinciis”. 17 Dixit autem ad eum dominus episcopus, quasi ipsum redarguendo: “Cur misisti fratres tuos tam longe ad moriendum fame et ad tantas alias tribulationes?”.
18 Respondit ei beatus Franciscus cum magno fervore spiritus et spiritu prophetie (cfr. Apoc 19,10): 19 “Domine, putatis vel creditis, quod Dominus solummodo propter istas provincias miserit fratres? 20 Sed dico vobis in veritate, quod Dominus elegit et misit fratres propter profectum et salutem animarum totius mundi; 21 et non solum recipientur modo in terra fidelium, sed etiam in terra infidelium. 22 Et dum observent, que Domino promiserunt, sic Dominus ministrabit eis necessaria in terra infidelium, sicut et in terra fidelium”. 23 Et admiratus est dominus episcopus in verbis suis adfirmans, quod verum diceret. 24 Et ita non dimisit ipsum ire in Franciam dominus episcopus; 25 sed beatus Franciscus misit illuc fratrem Pacificum cum aliis fratribus; et ipse reversus est in vallem Spoletanam.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição Menor - 37

[37]
1 Quando o bem-aventurado Francisco enviou os frades pelas provínci­as para pregar a penitência, disse-lhes: 2 “Em nome do Senhor, ide pelo caminho dois a dois (cf. Lc 10,1), convenientemente e, sobre­tudo, em silêncio desde a manhã até depois da Terça, orando sempre ao Senhor em vossos corações (cf. Cl 3,16); e palavras ociosas (cf. Mt 12,36) ou inúteis nem sequer se nomeiem entre vós (cf. Ef 5,3). 3 Mesmo que estejais andando, vossa conversa seja tão digna como se estivésseis no eremitério ou na cela, porque onde quer que estejamos e andemos, temos sempre a cela conosco, 4 pois o irmão corpo é nossa cela, e a alma é o eremita que mora na cela para orar a Deus e meditar. 5 Pois, se a alma não permanecer tranquila e solícita na sua cela, pouco proveito terá o religioso numa cela feita com as mãos”.
6 Quando, certo dia, o bem-aventurado Francisco pregava, dizia-lhes: “Falo-vos como aos acorrentados pelos demônios, porque por vossa miséria vos amarrastes e vendestes como um animal no mercado, 7 porque vos expondes à vontade deles, que destruíram e destroem a si mesmos e querem destruir toda a cidade”.
8 No tempo do capítulo em que pela primeira vez os frades foram enviados a algumas províncias ultramontanas, terminado o capítulo, disse o bem-aventurado Francisco: 9 “Irmãos caríssimos, é necessário que eu seja a forma e o modelo de todos os frades. 10 Portanto, se enviei meus frades para regiões longínquas para suportar tra­balho, vergonha, fome e muitas outras necessidades, parece-me justo que eu vá para alguma província remota, 11 sobretudo para que os frades suportem com mais paciência suas tribulações quando ouvem que eu suporto as mesmas coisas”. 12 E, feita a ora­ção, como era seu costume em tudo o que tinha que fazer, disse: “Em nome do Senhor, de sua Mãe e de todos os santos, escolho a província da França, 13 especialmente porque entre os católicos da santa Igreja prestam grande reverência ao corpo de Cristo, o que me agrada muito e, por isso, com maior prazer, viverei com eles”.
14 E, entre outros, tomou como companheiro o sacerdote Frei Silvestre, homem de Deus, de grande fé e muita simplicidade e pu­reza, que o santo pai venerava como santo.
15 Ao chegar a Florença, encontrou ali o senhor Cardeal Hugolino, bispo de Óstia, que de­pois foi papa, e que se alegrou com o santo; mas sabendo para onde ia, não quis que fosse. 16 Então, o santo pai lhe disse: “Senhor, sinto grande vergonha em enviar meus frades para regiões distantes e permanecer nestas províncias”. 17 Mas o senhor bispo redarguiu, como repreensão: “Por que enviaste teus frades tão longe para morrer de fome e por tantas outras tribulações”?
18 Com grande fervor de espírito e espírito de profecia (cf. Ap 19,10), respondeu-lhe o bem-aventurado Francisco: 19 “Senhor, pensais e credes que o Senhor enviou os frades somente para estas províncias? 20 Em verdade, vos digo que o Senhor escolheu e enviou os frades para proveito e salvação das almas de todo o mundo; 21 e vão ser recebidos não só na terra dos fiéis, mas também na terra dos infiéis. 22 E, contanto que observem o que prometeram ao Senhor, o Se­nhor lhes concederá o que for necessário, tanto na terra dos in­fiéis quanto na terra dos fiéis”. 23 O senhor bispo admirou-se com estas palavras, afirmando que dissera a verdade. 24 E assim, o se­nhor bispo não lhe permitiu ir para a França; 25 mas, o bem-aventurado Francisco enviou para lá Frei Pacífico com outros irmãos; ele mesmo re­gressou ao Vale de Espoleto.