Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Fontes Biográficas
  • Espelho da Perfeição Menor

TEXTO ORIGINAL

Speculum Perfectionis (minus) - 20

[20]
1 Cum beatus Franciscus ad preces domini Leonis cardinalis invitatus, quod maneret aliquandiu cum eo in Urbe, maxime quia tunc hiems erat, consensit, prima nocte verberaverunt eum demones; 2 et vocans socium dixit illi: “Quare verberaverunt me demones, etdata est illis potestas (cfr.  Apoc 9,3; 13,5.7) a Domino ad mala faciendum michi?”.
3 Et cepit dicere: “Demones sunt castaldi Domini nostri; sicut potestas, cum aliquis offendit, mictit castaldum suum ad puniendum ipsum, sic Dominus, quos diligit, per castaldos suos, videlicet per demones, qui in hoc ministerio sunt eius ministri, corripit et castigat (cfr. Heb 12,6.7; Prov 3,12). 4 Multotiens enim ignoranter peccat etiam perfectus religiosus; 5 unde, cum non cognoscit peccatum suum, castigatur a diabulo, ut videat et consideret propter illam castigationem diligenter interius et exterius ea, in quibus offendit; 6 quia quos tenere diligit Dominus, in presenti vita nichil in ipsis relinquit inultum”.
7 “Ego vero per gratiam et misericordiam Domini non cognosco me in aliquo offendisse, quin per confessionem et satisfactionem non emendaverim. 8 Immo etiam per misericordiam suam hoc donum contulit michi ut, de omnibus, in quibus sibi debeam placere et displicere, in oratione michi cognitionem tribuat.
9 Sed potest esse, ut michi videtur, quod ideo Dominus per castaldos suos me castigaverit, quia, licet dominus cardinalis libenter michi faciat misericordiam, et corpori meo sit necesse recipere et confidenter ab eo recipere valeam, 10 tamen fratres mei, qui vadunt per mundum sustinendo famem et multam tribulationem, et alii fratres, qui manent in pauperculis locis, cum audierint, quod maneo apud dominum cardinalem, occasionem; murmurandi adversum me habere [poterunt] dicentes: 11 ”Nos substinemus tot necessitates, et ipse habet consolationes suas”. 12 Unde semper teneor, illis dare bonum exemplum, maxime quia in hoc sum datus illis. 13 Nam magis hedificantur fratres, cum maneo in pauperculis locis inter ipsos, quam in aliis locis; et cum maiori patientia suas tribulationes et necessitates fratres portant, cum audiunt et sciunt me idem supportare”.
14 Et licet infirmus semper fuisset beatus Franciscus, quoniam in seculo fuit fragilis et debilis homo secundum naturam et cotidie, usque ad diem mortis sue esset infirmior, 15 tamen considerabat, ut fratribus exhiberet bonum exemplum et ut occasionem murmurandi semper de se tolleret eis; videlicet ut non possent dicere fratres: 16 “Ipse habet necessitates suas et nos non habemus”. 17 Quod in sanitate eius et in infirmitate usque ad diem mortis eius [tot voluit pati necessitates, 18 quod quicumque fratrum scirent sicutnos qui per aliquod tempus usque ad diem mortis eius] cum ipso fuimus (cfr. 2Pet 1,18)et vellent reducere ad memoriam, non possent se a lacrimis continere et, cum paterentur aliquas necessitates et tribulationes, cum maiori patientia ipsas supportarent. 19 Et veniens ad cardinalem narravit ei, que sibi acciderant et que socio dixerat, 20 et dixit ei: “Homines magnam fidem habent in me et credunt me sanctum hominem, et ecce ista nocte demones expulerunt me de carcere”. 21 Hoc dicebat de turri, que erat in muro urbis, in qua remote tanquam in carcere manere volebat; 22 et licentiatus a cardinale reversus est ad eremitorium S. Francisci de Fonte Columbarum iuxta Reate.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição Menor - 20

[20]
1 Quando foi convidado pela insistência do Cardeal Leão a ficar algum tempo com ele em Roma, o bem-aventurado Francisco aceitou, sobretu­do porque era inverno. Na primeira noite, os demônios o ataca­ram. 2 Chamando seu companheiro, disse-lhe: “Por que os demô­nios me atacaram e por que o Senhor lhes deu o poder (cf. Ap 9,3; 13,5.7) de me fazer mal?” 
3 E começou a dizer: “Os demônios são os carrascos de nosso Senhor. Assim como o podestà, quando al­guém erra, envia seu carrasco para puni-lo, da mesma forma o Se­nhor corrige castiga aqueles que ele ama (cf. Hb 12,6.7; Pr 3,12) por seus carrascos, isto é, pelos demônios que, neste caso, são seus servos. 4 Pois muitas vezes por ignorância peca também o religioso perfeito. 5 Por isso, não conhecendo seu pecado, é castigado pelo diabo, para que, pelo castigo, veja e considere por dentro e por fora aquilo em que pecou. 6 Com efeito, o Senhor não deixa nada impune nesta vida naqueles que ele ama ternamente. 
7 Mas eu, por graça e misericórdia do Senhor, não te­nho conhecimento de falta alguma que já não tenha reparado pela confissão e pela satisfação. 8 Além disso, por sua misericórdia concedeu-me a graça de, na oração, receber o conhecimento de tudo aquilo que possa agradar-lhe ou desagradar-lhe.
9 Mas pode ser, como me parece, que o Senhor me castigue por seus carrascos porque, embora o senhor cardeal de boa vontade tenha pena de mim e isso seja necessário ao meu corpo e confiantemen­te eu possa receber dele, 10 meus irmãos que vão pelo mundo su­portando fome e muito sofrimento e os outros irmãos que perma­necem em lugares pobrezinhos, quando ouvirem que eu perma­neço na casa do senhor cardeal, têm ocasião de murmurar contra mim, dizendo: 11 “Nós suportamos tantas necessidades e ele tem suas consolações”. 12 Por isso, tenho que dar-lhes sempre bom exemplo, sobretudo porque para isso, fui dado a eles. 13 Porque os frades se  edificam mais quando fico com eles em lugares pobrezinhos do que em outros lugares. E suportam seus sofrimentos e necessidades com mais paciência quando ou­vem e sabem que eu suporto a mesma coisa”.
14 E embora o bem-aventurado Francisco estivesse sempre doente, pois no mundo foi um homem frágil e débil por natureza e dia após dia áté o dia de sua morte ficou mais doente, 15 julgava que devia dar bom exemplo aos frades e que sempre devia tirar deles a ocasião de murmurar, isto é, que os frades não pudessem dizer: 16 “Ele tem suas necessidades e nós não temos”. 17 Por isso, na saúde e na doença e até o dia de sua morte, quis passar tantas necessidades 18 que, se todos os frades soubessem, como nós que por algum tempo até o dia de sua morte estivemos com ele (cf. 2Pd 1,18), e quisessem recordá-las, não poderiam conter suas lágrimas e, quando padecessem algumas necessidades e so­frimentos, suportá-las-iam com mais paciência. 19 Dirigindo-se ao cardeal contou-lhe tudo o que acontecera e o que dissera a seu companheiro. 20 E lhe disse: “As pessoas têm grande fé em mim e crêem que eu seja um homem santo. Por isso, nesta noite, os de­mônios expulsaram-me do cárcere”. 21 Dizia isso da torre que es­tava no muro da cidade e na qual queria permanecer distante como num cárcere. 22 Despedindo-se do cardeal regressou ao eremitério de São Francisco, em Fonte Colombo, perto de Rieti.