Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Espelho da Perfeição

TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 96

Caput 96. Qualiter reprehendit socium qui erat tristis in facie.

1 Dicebat beatus Franciscus: “Quoniam scio quod daemones invident mihi de beneficiis quae Dominus mihi dedit, scio etiam et video quod cum non possunt per me nocere mihi, insidiantur et student mihi nocere per socios meos. 2 Si vero per me et socios meos mihi nocere non possunt cum magna confusione recedunt. 3 Immo quandoque si essem tentatus vel accidiosus, cum considero laetitiam socii mei, statim occasione laetitiae illius revertor de tentatione et accidia ad interiorem et exteriorem laetitiam”.
4 Propterea ipse pater valde arguebat illos qui exterius tristitiam praetendebant. Nam quadam vice reprehendit unum de sociis qui tristis in facie apparebat. 5 Et ait illi: “Cur ostendis exterius dolorem et tristitiam de tuis offensis? 6 Inter te et Deum habeas hanc tristitiam, et ora ipsum ut per misericordiam suam parcat tibi, et reddat animae tuae laetitiam salutaris (cfr.  Ps 50,14) sui, qua per peccati demeritum est privata. 7 Coram me autem et aliis studeas semper habere laetitiam, nam servo Dei non convenit coram fratre suo vel alio ostendere tristitiam et faciem turbulentam (cfr.  Is 42,4)”.
8 Non quidem intelligendum est vel credendum quod pater noster, omnis maturitatis et honestatis amator, voluerit hanc laetitiam ostendi per risum vel etiam per nimium verbum vanum, 9 cum per hoc non laetitia spiritualis sed vanitas et fatuitas potius ostendatur; immo in servo Dei risum et verbum otiosum (cfr. Mat 12,36) singulariter abhorrebat, 10 cum non solum vellet eum non debere ridere, sed nec minimam occasionem ridendi aliis exhibere. 11 Unde in quadam sua admonitione clarius expressit qualis debet esse laetitia servi Dei. Ait enim: Beatus ille religiosus qui non habet jucunditatem et laetitiam nisi in sanctissimis eloquiis et operibus Domini et cum iis provocat homines ad amorem Dei in gaudio et laetitia. 12 Et vae illi religioso qui delectatur in verbis otiosis (cfr. Mat 12,36) et inanibus et cum iis provocat homines ad risum.
13 Per laetitiam ergo faciei intelligebat fervorem et sollicitudinem atque dispositionem et praeparationem mentis et corporis ad faciendum libenter omne bonum (cfr. Tit 3,1)14 quia per hujusmodi fervorem et di­spositionem magis provocantur alii quandoque quam per ipsum actum bonum. 15 Immo si actus, quantumcumque bonus, non videatur fieri libenter et ferventer, magis generat taedium quam provocet ad bonum.
16 Ideoque nolebat in facie videre tristitiam quae accidiam et indispositionem mentis atque inertiam corporis ad omne bonum saepius repraesentat. 17 Gravitatem autem et maturitatem in facie et in cunctis membris et sensibus corporis semper in se et in aliis praecipue diligebat, atque ad hoc quantum poterat verbo et exemplo alios inducebat. 18 Experiebatur enim hujusmodi gravitatem et modestiam morum esse sicut murum et scutum fortissimum contra sagittas diaboli, 19 et animam sine hujus muri et scuti protectione esse sicut militem nudum inter hostes fortissimos et munitissimos ad mortem ipsius continue fervidos et intentos.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 96

Capítulo 96. Como repreendeu um companheiro que andava de semblante triste.

1 O bem-aventurado Francisco dizia; “Porque sei que os demônios me invejam por causa dos benefícios que o Senhor me concedeu; sei também e vejo que, não podendo prejudicar a mim, insidiam-me e procu­ram prejudicar-me por meus companheiros. 2 Se não podem prejudicar-me por mim ou por meus companheiros, vão-se bem confusos. 3 Mais: sempre que sou ten­tado ou estou abatido, se vejo a alegria do meu companhei­ro, por causa da alegria dele, volto logo da tentação e do desânimo para a alegria interior e exterior”.
4 Por isso, o pai repreendia muito aqueles que mostravam tris­teza exterior. Uma vez, repreendeu um dos companheiros que apresentava um semblante triste. 5 E disse: “Por que mos­tras exteriormente a dor e a tristeza de tuas ofensas? 6 Mantém essa tristeza entre ti e Deus e pede-lhe que te poupe por sua misericórdia, e restitua à tua alma a alegria de suasalva­ção (cf. Sl 50,14), que foi perdida por culpa do pecado. 7 Diante de mim e dos outros, porém, procura sempre ter alegria, pois não convém que o servo de Deus mostre tristeza e semblante pertur­bado (cf. Is 42,4) diante de seu irmão ou de outro”.
8 Mas não se deve pensar ou crer que nosso pai, amante da maturidade e da honestidade, pretendesse mostrar essa alegria pelo riso ou mesmo por demasiadas palavras vãs, 9 já que por isso não se mostra a alegria espiritual, mas a vaidade e a fatuidade. Ele até detestava, no servo de Deus, particularmente o riso e a palavra inútil (cf. Mt 12,36), 10 pois não só queria que ele não risse, mas que nem desse aos outros a mínima ocasião de rir. 11 Por esse moti­vo, numa de suas exortações expressou claramente qual devia ser a alegria do servo de Deus. Pois disse: Bem-aventurado o religioso que não sente prazer e alegria senão nas santíssimas palavras e obras do Senhor e por elas estimula os homens ao amor de Deus no júbilo e na alegria. 12 E ai do religioso que se deleita com palavras ociosas (cf. Mt 12,36) e fúteis e com elas leva os homens ao riso.
13 Por alegria do rosto entendia o fervor e a solicitude, a dis­posição e a preparação da mente e do corpo para fazerem de bom grado todo o bem (cf. Tt 3,1), 14 porque, às vezes, os outros são mais estimulados por esse fervor e disposição do que pelo pró­prio ato bom. 15 Além disso, se o ato, embora bom, parece que não é feito de boa vontade e com fervor, mais gera tédio do que estimula ao bem.
16 Por isso, não queria ver a tristeza estampada no rosto a tristeza ­que, muitas vezes, reflete o desgosto, a indisposição da mente e a preguiça do corpo para todo bem. 17 Apreciava, porém, sempre em si e nos outros a gravidade e a maturidade no rosto e em todos os membros e sentidos do corpo e, quanto podia, indu­zia os outros a isso pela palavra e pelo exemplo. 18 Pois sabia por experiência que esta gravidade e modéstia dos costumes são como um muro e um escudo fortíssimo contra as flechas do diabo, 19 e a alma, sem a proteção deste muro e escudo, é como um soldado nu entre inimigos fortíssimos e bem armados, conti­nuamente ardorosos e dispostos a matá-la.