Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 43

Caput 43. De humili responsione beatorum Francisci et Dominici, quando fuerunt simul interrogati utrum vellent fratres suos esse praelatos in ecclesia.

1 In urbe Roma, cum illa duo clara luminaria orbis, videlicet beatus Franciscus et beatus Dominicus, essent simul coram domino Ostiensi, qui postea fuit summus pontifex, 2 atque vicissim eructuarent de Deo melliflua, dixit illis tandem dominus Ostiensis: “In ecclesia primitiva pastores et praelati erant pauperes, et homines caritate non cupiditate ferventes. 3 Cur ergo non facimus de vestris fratribus episcopos et praelatos qui documento et exemplo (cfr. Tit 2,7) omnibus aliis praevalerent?”.
4 Fit inter sanctos de respondendo humilis et devotacontentio (Luc 22,24)non quidem praecipientibus sed deferentibus sibi invicem, ac se cogentibus ad respondendum. 5 Sed tandem vicit humilitas Francisci ne prius responderet, vicit etiam Dominicus ut prius respondendo humiliter obediret.
6 Respondens ergo, beatus Dominicus dixit: “Domine, gradu bono sublimati sunt fratres mei, si hoc cognoscere volunt, et pro posse meo nunquam permittam ut aliud assequantur speculum dignitatis”.
7 Tunc beatus Franciscus, inclinans se coram dicto domino, dixit: “Domine, Minores ideo vocati sunt fratres mei ut majores fieri (cfr. Mat 20,26) non praesumant: 8 docet eorum vocatio ipsos in plano subsistere et humilitatis Christi vestigia imitari, ut per hoc tandem, in respectione sanctorum (cfr. Sap 3,13)plus aliis exaltentur. 9 Si enim vultis ut faciant fructum in Ecclesia Dei (cfr. Phip 3,6)tenete illos et conservate in statu vocationis eorum; atque ipsos, si ad alta conscenderint, ad plana reducite violenter, nec ad praelationem aliquam illos ascendere permittatis”.
10 Haec fuerunt sanctorum responsa. Quibus, finitis, de utriusque responsionibus aedificatus valde, dominus Ostiensis immensas gratias Deo egit (cfr. Act 27,35).
11 Discedentibus autem ambobus simul, rogavit beatus Dominicus sanctum Franciscum ut dignaretur ei donare cordam que cingebatur. Recusavit beatus Franciscus ex humilitate, sicut ille ex caritate poscebat. 12 Vicit tamen felix postulantis devotio, et cordam beati Francisci per violentiam caritatis acceptam ipse beatus Dominicus sub inferiori tunica cinxit et ex tunc devote portavit.
13 Tandem alter posuit manus suas inter manus alterius, et alter alteri se mutua recommendatione dulcissime commendavit. Dixitque sanctus Dominicus sancto Francisco: “Vellem, frater Francisce, unam religionem fieri tuam et meam, et nos in Ecclesia vivere pari forma”.
14 Demum, cum se ab invicem separabant, dixit beatus Dominicus pluribus qui adstabant: “In veritate dico vobis(cfr. Luc 4,25) quod hunc sanctum virum Franciscum omnes religiosi deberent imitari, tanta est sanctitatis ejus perfectio”.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 43

Capítulo 43. A humilde resposta de São Francisco e São Domingos, quando, juntos, foram interrogados se queriam que seus frades fossem prelados na Igreja.

1 Na cidade de Roma, quando os dois claros astros do universo, o bem-aventurado Francisco e o bem-aventurado Domingos, estavam diante do senhor de Óstia, que depois foi sumo pontífice, 2  contavam um ao outro coisas melífluas sobre Deus. Por fim o senhor de Óstia lhes disse: “Na Igreja primitiva, os pastores e os prelados eram pobres e ho­mens ardentes de caridade e não de ambição. 3 Portanto, por que não fazemos de vossos frades bispos e prelados, que se distingam de todos os outros pelo testemunho e pelo exemplo?” (cf. Tt 2,7).
Estabeleceu-se entre os santos uma humilde e devota contenda (cf. Lc 22,24) sobre a resposta, não para se adiantar, mas para um ceder ao outro e levá-lo a responder. 5 Por fim, ven­ceu a humildade de Francisco em não ser o primeiro a responder, e venceu também Domingos que, respondendo por primeiro, obedeceu com humildade..
6 Assim, respondendo, São Domingos disse: “Senhor, meus frades estão elevados a bom grau, se querem reconhecê-lo; en­quanto eu puder, jamais permitirei que atinjam outro tipo de dig­nidade”.
7 Depois, inclinando-se diante do referido senhor, o bem-aventurado Fran­cisco disse: “Senhor, meus frades chamam~se menores para que não presumam tornar-se maiores (cf. Mt 20,26). 8 Sua vocação lhes ensina a ficar no chão e a seguir os passos da humil­dade de Cristo, para que, no fim, sejam exalta­dos mais que os outros aos olhos dos santos (cf. Sb 3,13). 9 Se quiserdes que produzam fruto na Igreja de Deus(cf. Fl 3,6), mantende-os e conservai-os no estado de sua vocação; e, se subirem a postos mais elevados, fazei-os voltar à força para baixo e não permitais que subam a uma prelatura”.
10 Estas foram as respostas dos santos. Assim que termina­ram, o senhor de Óstia ficou muito edificado com as res­postas dos dois e deu imensas graças a Deus (cf. At 27,35).
11 Afastando-se os dois juntos, o bem-aventurado Domingos pe­diu ao bem-aventurado Francisco que se dignasse dar-lhe a corda com a qual se cingia. O bem-aventurado Francisco recusou por humildade, como o bem-aventurado Domin­gos pedia por caridade. 12 Mas venceu a feliz devoção do pedinte e, recebida a corda do bem-aventurado Francisco pela violência da ca­ridade, o bem-aventurado Domingos cingiu-a sob a túnica interior e, daí por di­ante, usou-a com devoção.
13 Por fim, um pôs suas mãos entre as mãos do outro e, doce­mente, um se recomendou ao outro. O bem-aventurado Domingos disse ao bem-aventurado Francisco: “Frei Francisco, eu desejaria que a tua e a minha Ordem formassem uma só, e vivêssemos na Igreja de igual forma”.
14 Finalmente, quando se separavam um do outro, o bem-aventurado Domingos disse a muitos que estavam presentes: “Em verdade vos digo (cf. Lc 4,25) que todos os religiosos deveriam imitar este santo ho­mem Francisco, tal é a perfeição de sua santidade”.