Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Fontes Biográficas
  • Espelho da Perfeição

TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 34

Caput 34. Qualiter dedit tunicam fratribus petentibus eam amore Dei.

1 Unde, quodam tempore, dum iret per quamdam provinciam praedicando, obviaverunt ei duo fratres Francigenae; qui, cum habuissent de ipso magnam consolationem, finaliter petierunt ei tunicam suam, amore Dei. 2 Ipse autem statim ut audivit amore Dei, exuit se tunicam, et dedit eis, manens nudus per aliquam horam.
3 Nam cum sibi allegabatur amore Dei, sive corda, sive tunica, sive aliquid aliud peteretur, nunquam alicui denegabat; immo displicebat sibi valde, et saepe arguebat fratres, cum audiret eos pro qualicumque re amore Dei inutiliter nominare. 4 Dicebat enim: “Tam altissimus et pretiosissimus est amor Dei quod nunquam deberet, nisi raro et in magna necessitate, cum multa reverentia, nominari”.
5 Unus autem ex illis fratribus exuit se tunicam suam et dedit ei. 6 Similiter cum dabat tunicam vel partem ejus alicui, sustinebat inde magnam necessitatem et tribulationem, quoniam non poterat tam cito habere vel facere fieri aliam, 7 maxime quia semper volebat habere pauperculam tunicam, de pettis repetiatam, quandoque intus et foris; immo nunquam aut raro volebat portare tunicam de novo panno; sed acquirebat ab aliquo fratre tunicam eius, quam ille portaverat per aliquod tempus. 8 Et etiam quandoque accipiebat ab uno fratre partem tunicae suae et ab alio alteram partem. Interius vero, propter suas multas infirmitates et frigiditates stomachi et splenis, aliquando repetiabat eam de panno novo. 9 Et hunc modum paupertatis in vestimentis suis tenuit et observavit usque ad illum annum quo migravit ad Dominum; 10 nam paucis diebus ante obitum suum, quia erat hydropicus et quasi totus desiccatus, et propter alias plures infirmitates quas habebat, fecerunt ei fratres plures tunicas, ut propter necessitatem die noctuque tunica mutaretur.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 34

Capítulo 34. Como deu a túnica aos frades que a pediram por amor de Deus.

1 Certa vez, enquanto andava pregando numa região, dois frades franceses se encontraram com ele. Depois de receberem dele uma grande consolação, por fim lhe pediram a tú­nica, por amor de Deus. 2 Assim que ouviu “por amor de Deus”, despiu a túnica e a deu a eles, ficando despido por algum tempo.
3 Pois quando se apelava para o amor de Deus, seja que lhe pe­dissem a corda, a túnica ou qualquer outra coisa, jamais dizia não a ninguém. E até muito lhe desagradava e, com freqüência, repreen­dia os frades, quando os ouvia pronunciar inutilmente, por qual­quer coisa, o amor de Deus. 4 Pois dizia: “O amor de Deus é tão sublime e precioso que deveria ser dito raramente, por grande necessidade e com muita reverência”.
5 Mas um daqueles frades despiu sua túnica e a deu a ele. 6 E também, quando dava a túnica ou parte dela a alguém, passava grande necessidade e tribulação, porque não podia obter ou fazer outra tão rapidamente, 7 sobretudo porque sempre queria ter uma túnica pobrezinha, remendada de retalhos, às vezes por dentro e por fora; e mais, nunca ou raramente queria usar uma túnica de te­cido novo, mas tomava a túnica que outro frade havia usado por algum tempo. 8 E às vezes até recebia uma parte da túnica de um frade e a outra parte de outro frade. Devido, porém, às suas mui­tas enfermidades e ao esfriamento do estômago e do baço, re­mendava-a por dentro com pano novo. 9 Conservou e observou este tipo de pobreza nas suas roupas até o ano em que mi­grou para o Senhor. 10 Mas poucos dias antes de morrer, visto que era hidrópico e quase todo mirrado e devido a muitas outras do­enças que tinha, os frades lhe fizeram várias túnicas para que, de­vido à necessidade, pudesse mudá-la de dia e de noite.