Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 23

Caput 23. Qualiter ivit pro eleemosyna priusquam intraret ad mensam car­dinalis.

1 Quodam tempore cum beatus Franciscus visitasset dominum Ostiensem, qui postea fuit papa Gregorius, in hora comestionis, quasi furtive, ivit pro eleemosynis ostiatim; et cum reversus fuisset, jam intraverat ad mensam dominus Ostiensis cum multis militibus et nobilibus. 2 Accedens autem beatus Franciscus, posuit super mensam coram cardinali illas eleemosynas quas invenerat, et intravit ad mensam juxta ipsum, quia volebat quod semper beatus Franciscus sederet ad mensam juxta eum. 3 Et verecundatus fuit inde aliquantulum cardinalis, eo quod iverat pro eleemosynis et posuerat eas super mensam, sed nihil dixit ei tunc propter recumbentes.
4 Cumque comedisset aliquantulum, beatus Franciscus accepit de suis eleemosynis et cuilibet militi et capellanis domini cardinalis misit parum ex parte Domini Dei. 5 Qui omnes cum magna reverentia et devotione accipiebant, extrahentes sibi caputia et infulas; et alii comedebant, et alii reponebant propter ejus devotionem.
6 Ex hoc autem gavisus est valde dominus Ostiensis, propter illorum devotionem, maxime quia illae eleemosynae non erant de pane frumenti.
7 Post comestionem vero intravit cameram suam, ducens secum beatum Franciscum. Et elevans brachia sua amplexatus est beatum Franciscum cum nimio gaudio et exsultatione, dicens ei: 8 “Quare, frater mi, simplizone, fecisti hodie mihi verecundiam, ut veniens ad domum meam, quae est domus fratrum tuorum, ires pro eleemosynis?”.
9 Respondit ei beatus Franciscus: “Immo, domine, exhibui vobis maximum honorem, quoniam cum subditus facit officium suum et implet obedientiam domini sui, facit honorem domino suo”. 10 Et ait: “Me oportet esse formam et exemplum pauperum vestrorum, maxime quia scio quod in hac religione fratrum sunt et erunt fratres, Minores nomine et opere, qui, propter amorem Domini Dei et sancti Spiritusunctionem quae docebit eos de omnibus (cfr. 1Ioa 2,27)humiliabuntur ad omnem humilitatem et subjectionem et servitium fratrum suorum; 11 sunt etiam et erunt de illis qui, aut verecundia detenti, aut propter malum usum, dedignantur et dedignabuntur se humiliare et inclinare ad eundum pro eleemosynis, et facere alia opera serviria, 12 propter quod oportet me opere docere eos qui sunt et erunt in religione, ut in hoc saeculo et in futuro sint inexcusabiles (cfr. Rom 1,20) coram Deo. 13 Existens ergo apud vos, qui estis dominus et apostolicus noster, et apud altos magnates et divites hujus saeculi, qui propter amorem Domini Dei, cum multa devotione non solum me recipitis in domos vestras, sed etiam ad hoc me compellitis, nolo verecundari ire pro eleemosynis. 14 Immo volo hoc habere et tenere secundum Deum pro maxima nobilitate et dignitate regali atque honore illius qui 15 cum esset Dominus omnium pro nobis fieri voluit servus omnium. Et cum esses dives (cfr. 2Cor 8,9) et gloriosus in majestate sua Venit pauper et despectus in humilitate nostra.
16 Unde volo quod sciant fratres qui sunt et erunt quod pro majori consolatione animae et corporis habeo quando sedeo ad mensam pauperculam fratrum, 17 et video coram me pauperculas eleemosynas quae acquiruntur ostiatim amore Domini Dei, quam cum sedeo ad mensam vestram et aliorum dominorum praeparatam diversis ferculis abundanter.
18 Panis enim eleemosynae est panis sanctus, quem sanctificat laus et amor Dei, quoniam cum frater vadit pro eleemosyna prius debet dicere: Laudatus et benedictus sit Dominus Deus (cfr. Ps 112,1.2: Luc 24,53)! Postea debet dicere: Facite nobis eleemosynam amore Domini Dei”.
19 Et de hujusmodi collatione verborum beati Francisci cardinalis fuit valde aedificatus, et ait illi: “Fili mi, quod bonum est in oculis tuis facias (cfr. 1Re 14,36), quoniam Dominus tecum est (cfr. 2Re 7,3; Luc 1,28)et tu cum ipso”.
20 Nam voluntas beati Francisci fuit, sicut et multoties dixit, quod frater non deberet diu stare quin iret pro eleemosyna, propter meritum magnum et ne verecundaretur postea ire. 21 Immo quanto frater fuerat nobilior et major in saeculo, tanto magis laetabatur et aedificabatur de eo quando ibat pro eleemosyna, et faciebat alia ser­vilia opera quae tunc faciebant fratres.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 23

Capítulo 23. Como foi pedir esmola antes de sentar-se à mesa do cardeal.

1 Certa ocasião, quando o bem-aventurado Francisco visitava o senhor de Óstia, que depois foi o Papa Gregório, na hora da refeição, quase furtivamente foi pedir esmolas de porta em porta. Quando voltou, o senhor de Óstia já estava à mesa com numerosos cavaleiros e no­bres. 2 O bem-aventurado Francisco chegou, pôs sobre a mesa, diante do cardeal, as esmolas que havia recolhido e sentou-se à mesa a seu lado, pois ele queria que, à mesa, o bem-aventurado Francisco sempre se sentasse a seu lado. 3 O cardeal envergonhou-se um pouco, porque ele fora pedir esmolas e as pusera sobre a mesa; mas, na ocasião, nada lhe disse, por causa dos convivas.
4 Depois de comer alguma coisa, São Francisco tomou suas es­molas e, em nome do Senhor, deu uma porção a cada cavaleiro e a cada capelão do senhor cardeal. 5 Todos a receberam com grande respeito e devoção, tirando o capuz e o barrete; uns a comeram, outros, por devoção para com ele, guardaram-na.
6 O senhor de Óstia se alegrou muito por isso, por causa da devoção deles e, sobretudo, porque as esmolas não eram de pão de trigo.
7 Depois da refeição, porém, entrou no seu aposento, levando o bem-aventurado Francisco consigo. E, levantando os braços, abraçou o bem-aventurado Francisco com muita alegria e exultação, dizendo-lhe: 8 “ Por que, meu irmão, simplório,  me causaste hoje a vergonha de, ao vires à minha casa, que é casa dos teus irmãos, saíres a pedir esmolas?”
9 O bem-aventurado Francisco respondeu-lhe: “Ao contrário, senhor. Eu vos fiz uma grande honra, porque, quando um súdito cumpre seu de­ver e obedece a seu senhor, ele o honra”. 10 E disse: “Devo ser o modelo e o exemplo de vossos pobres, sobretudo porque sei que nesta Ordem há e haverá frades, menores de nome e de fato, que, por amor de Deus e unção do Espírito Santo, que os ensina­rá a respeito de todas as coisas (cf. 1Jo 2,27), humilhar-se-ão com toda humildade, submissão e serviço de seus irmãos; 11 mas, há e haverá também aqueles que, levados pela vergonha ou por mau costume, deixam e deixarão de humilhar-se e de dispor-se a ir esmolar e fazer outras obras servis. 12 Por isso, é necessário que, por obras, eu ensine os que estão ou estarão na Ordem, para que neste mundo e no futuro sejam indesculpáveis (cf. Rm 1,20) diante de Deus. 13 Estando, pois, em vossa casa, que sois nosso senhor e apostólico, e na casa de outros poderosos e ricos deste mundo, que, por amor do senhor Deus, com muita devoção não só me re­cebeis em vossas casas, mas também me forçais para a vossa hos­pitalidade, não quero envergonhar-me de pedir esmolas. 14 E até quero manter isto e considerá-lo como a mais alta nobre­za e dignidade real e uma honra daquele que, 15 sendo o Senhor de todos, por nós quis fazer-se servo de todos; e sendo rico (cf. 2Cor 8,9) e glorioso na sua majestade, veio pobre e desprezado para a nossa humilde condição.
16 Por essa razão, quero que os frades, presentes e futuros, sai­bam que sinto mais consolação da alma e do corpo quando estou na mesa pobrezinha dos frades 17 e vejo diante de mim as pobres esmolas que são recebidas de porta em porta por amor do Senhor Deus, do que quando me sento à vossa mesa e à de outros senho­res, abundantemente preparadas com diversas iguarias.
18 Pois o pão da esmola é pão santo, santificado pelo louvor e pelo amor de Deus, porque, quando o frade sai para pedir esmola, antes deve dizer: Seja louvado e bendito o Senhor Deus (cf. Sl 112,1.2; Lc 24,53)! Depois deve dizer: “Dai-nos uma esmola por amor do Se­nhor Deus”.
19 O cardeal ficou muito edificado com essa reflexão do bem-aventurado Francisco, e lhe disse: “Meu filho, faze o que é bom a teus olhos (cf. 1Sm 14,36), porque o Senhor está contigo (cf. 2Sm 7,3; Lc 1,28) e tu estás com ele”.
20 Pois a vontade do bem-aventurado Francisco era, como disse muitas vezes, que um frade não devia ficar muito tempo sem ir esmolar, por causa do grande mérito e para não se envergo­nhar ao voltar a esmolar. 21 E mais, quanto mais nobre e maior o fora o frade no século, tanto mais se alegrava e edificava quan­do ia pedir esmola e fazia outras obras servis que os frades então faziam.