Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 22

Caput 22. Qualiter milites invenerunt necessaria petendo eleemosyna ostiatim, juxta consilium beati Francisci.

1 Cum beatus Franciscus esset in loco Bagnareae, super civitatem Nucerii, coeperunt pedes ejus fortius intumescere ex infirmitate hydropisis, et graviter infirmatus est ibi. 2 Quod cum audissent homines de Assisio, venerunt festinanter quidam milites ad locum illum ut ducerent ipsum Assisium, timentes ne ibi moreretur, et alii haberent sanctissimum corpus ejus.
3 Dum autem ducerent eum, requieverunt in quodam castro de comitatu Assisii, ut ibi pranderent; et beatus Franciscus quievit in domo cujusdam pauperis hominis qui libenter et laetanter suscepit eum. 4 Milites vero iverunt per castrum ut emerent sibi necessaria et non invenerunt. Et reversi sunt ad beatum Franciscum, dicentes ei quasi solatiando: “Oportet, fratres, ut detis nobis de eleemosynis vestris, quia nihil habere possumus ad emendum!”.
5 Et ait illis beatus Franciscus cum magno fervore spiritus: “Ideo non invenistis quia confiditis in vestris muscis (id est in denariis), et non in Deo (cfr. Mat 27,43)! 6 Sed revertimini ad domos per quas ivistis quaerendo ad emendum; et deposita verecundia quaeratis ibidem eleemosynas amore Domini Dei: et Spiritu sancto inspirati dabunt vobis abundanter”. 7 Iverunt ergo et petierunt eleemosynas, sicut dixit eis beatus Franciscus; et cum magna laetitia et abundantia dederunt eis de rebus quas habebant illi a quibus eleemosynas postulabant. 8 Et cognoscentes hoc eis accidisse miraculose, cum magno gaudio adbeatum Franciscum laudantes Dominum sunt reversi(cfr. Luc 24,52-53; Act 1,12).
9 Sic itaque beatus Franciscus pro magna nobilitate et dignitate habebat, secundum Deum et secundum mundum petere eleemosynas amore Domini Dei; 10 quia omnia quae Pater caelestis pro utilitate hominis creavit, propter amorem dilecti Filii sui dignis et indignis post peccatum gratis pro eleemosyna sunt concessa.
11 Dicebat enim quod libentius et jucundius debet petere servus Dei eleemosynas amore Domini Dei quam ille qui pro sua largitate et curialitate iret dicendo. 12 “Quicumque dabit mihi talem nummatam valentem unum solum denarium, dabo sibi mille marcas auri: nam servus Dei, petendo eleemosynam offert amorem Dei illis a quibus petit, in cujus comparatione omnia quae sunt in caelo et in terra nihil sunt”.
13 Unde antequam fratres essent multiplicati, et etiam postquam multiplicati fuerunt, cum iret per mundum praedicando et invitaretur ab aliquo, quantumcumque nobili et divite, ut comederet et hospitaretur apud eum; 14 semper, hora comestionis, ibat pro eleemosyna, priusquam iret ad domum illius, propter bonum exemplum fratrum et dignitatem dominae paupertatis.
15 Et multoties dicebat ei qui invitaverat ipsum: “Ego nolo dimittere dignitatem meam regalem et hereditatem ac professionem meam et fratrum meorum (videlicet ire pro eleemosyna ostiatim)”. 16 Et aliquando ibat cum eo ipse qui invitaverat eum, et eleemosynas quas acquirebat beatus Franciscus ille accipiebat, et propter ejus devotionem pro reliquiis reponebat.
17 Qui scripsit haec, vidit hoc multoties et testimontum perhibet de iis (cfr. Ioa 21,24).

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 22

Capítulo 22. Como os soldados obtiveram o necessário, pedin­do esmola de porta em porta, a conselho do bem-aventurado Francisco.

1 Quando São Francisco se encontrava no lugar de Ba­gnara, acima da cidade de Nocera, seus pés começaram a inchar-se mais fortemente pela doença da hidropisia, e ali adoeceu gravemente. 2 Quando os habitantes de Assis souberam disso, vieram depressa alguns cavaleiros àquele lugar para levá-lo a Assis, pois receavam que morresse ali e outros ficassem com seu santís­simo corpo.
3 Ora, quando o conduziam, pararam numa aldeia do condado de Assis para almoçar; o bem-aventurado Francisco descansou na casa de um po­bre homem, que o recebeu de boa vontade e com alegria. 4 Os cavaleiros, porém, foram até a vila para comprar o necessário e nada encontraram. Voltaram ao bem-aventurado Francisco, dizendo-lhe como que su­plicando: “Irmãos, é preciso que nos deis de vossas esmolas, pois nada encontramos para comprar!”
5 Com grande fervor de espírito, o bem-aventurado Francisco lhes disse: “Não encontrastes, porque confiastes em vossas moscas, isto é, no dinheiro, e não em Deus (cf. Mt 27,43)! 6 Mas retomai às casas onde fostes para comprar e, deixando de lado a vergonha, pedi ali mesmo esmolas por amor do Senhor Deus. Então, inspirados pelo Espírito Santo, dar-vos-ão em abundância”. 7 Foram, pois, e pediram esmolas conforme lhes disse São Francisco; e, com grande alegria e abundância, deram-lhes as coisas que tinham aqueles a quem pediam esmolas. 8 Reconhecendo que isso acon­teceu miraculosamente, com grande alegria, retornaram a São Francisco, louvando (cf. Lc 24,52-53; At 1,12) o Senhor.
9 Era assim que o bem-aventurado Francisco considerava uma grande nobreza e dignidade diante de Deus e di­ante do mundo pedir esmolas por amor do Senhor Deus ; 10 porque todas as coisas que o Pai celeste criou para utilidade do homem, depois do pecado são concedidas como esmola a dignos e indignos por amor do seu dileto Filho.
11 Com efeito, dizia que o servo de Deus deve pedir esmolas por amor do Senhor Deus mais prazerosa e alegremente do que alguém que, com sua riqueza e cortesia, andasse dizendo: 12 ”Se alguém me der uma moeda que vale um só denário, dar-lhe-ei mil marcos de ouro!”, porque o servo de Deus, pedindo esmola, ofe­rece àqueles a quem pede o amor de Deus, em comparação com o qual todas as coisas do céu e da terra são um nada”.
13 Por isso, antes que os frades se multiplicassem, e mesmo depois que se multiplicaram, quando ia pelo mundo a pregar e era convidado por alguém para comer e hospedar-se em sua casa, por mais nobre e rico que fosse, 14 na hora da refeição, sempre ia pedir esmola antes de ir à casa dele, por causa do bom exemplo aos irmãos e da dignidade da senhora Pobreza.
15 E, muitas vezes, dizia àquele que o convidara: “Não quero perder minha dignidade real, minha herança e profissão e a de meus irmãos, isto é, de pedir esmola de porta em porta”. 16 Às ve­zes, aquele que o convidara ia com ele e guardava as esmolas que o bem-aventurado Francisco recebia e, por devoção a ele, conservava-as como relíquias.
17 Quem escreve estas coisas, viu isso muitas vezes e dá teste­munho delas (cf. Jo 21,24).