Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Espelho da Perfeição

TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 20

Caput 20. Qualiter reprehendit fratres verbo et exemplo qui paraverant mensam sumptuose in die nativitatis Domini propter ministrum qui aderat.

1 Cum quidam minister fratrum venisset ad beatum Franciscum causa celebrandi festum nativitatis Domini cum eo in loco fratrum de Reate, 2 fratres, occasione ministri et festi, paraverunt mensas aliqualiter honorifice et curiose ipso die nativitatis, superponentes tobaleas pulchras et albas et vasa vitrea.
3 Descendens autem beatus Franciscus de cella ad comedendum vidit mensas in alto positas et ita curiose paratas. 4 Tunc statim ivit secreto, et tulit capellum et baculum cujusdam pauperis qui illuc venerat ipso die, et advocans unum de sociis suis submissa voce, exivit foras ostium loci, ignorantibus fratribus de domo. 5 Socius autem remansit intus juxta ostium; fratres vero interim intraverunt ad mensam, nam beatus Franciscus ordinaverat ut fratres non exspectarent eum quando non veniebat statim hora comestionis.
6 Cumque stetisset aliquantulum foras, pulsavit ostium, et socius ejus statim aperuit ei; et veniens, cum capello post dorsum et baculo in manibus, ivit ad ostium domus in qua fratres comedebant, sicut peregrinus et pauper, et clamavit dicens: “Amore Domini Dei facite eleemosynam isti pauperi peregrino et infirmo!”. 7 Minister autem et alii fratres statim cognoverunt eum. Et respondit illi minister: “Frater, nos etiam pauperes sumus, et cum simus multi, necessariae sunt nobis eleemosynae quas habemus; 8 sed amore illius Domini quem nominasti intres domum, et dabimus tibi de eleemosynis quas Dominus dedit nobis”.
9 Et cum intrasset et staret ante mensam fratrum, minister dedit ei scutellam in que comedebat et de pane similiter. Et accipiens, humiliter sedit in terra, juxta ignem, coram fratribus sedentibus ad mensam.
10 Et suspirans, dixit ad fratres: “Cum viderem mensam honorifice et curiose paratam, consideravi quod non erat mensa Pauperum religiosorum qui quotidie vadunt ostiatim pro eleemosyna; 11 nobis enim, carissimi, magis convenit sequi exemplum humilitatis et paupertatis Christi quam aliis religiosis, quia ad hoc vocati sumus et professi sumus coram Deo et hominibus. 12 Unde modo videtur mihi quod sedeam sicut frater Minor: nam festivitates Domini et aliorum sanctorum magis honorantur cum inopia et paupertate, per quam ipsi sancti lucrati sunt caelum, quam cum curiositate et superfluitate, per quam anima elongatur a caelo”.
13 Ex hoc autem verecundati sunt fratres, considerantes quod ipse puram veritatem dicebat. Et quidam ex eis coeperunt fortiter lacrimari, attendentes quomodo sedebat in terra, et quod ita sancte et honeste voluit eos corrigere et docere. 14 Admonebat enim fratres ut ita humiles et honestas mensas haberent quod inde saeculares possent aedificari, et si aliquis pauper superveniret vel invitaretur a fratribus, posset sedere aequaliter juxta eos, et non pauper in terra et fratres in alto.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 20

Capítulo 20. Como, pela palavra e pelo exemplo, repreendeu os frades que haviam preparado suntuosamente a mesa no dia do Natal do Senhor, por causa da presença do ministro.

1 Um ministro dos frades veio ter com o bem-aventurado Francisco, para celebrar com ele a festa do Natal do Senhor no lugar dos frades de Rieti. 2 Com o pretexto do ministro e da festa, os frades prepararam as mesas com certa solenidade  e capricho pelo dia do Natal, cobrindo-as com belas toalhas brancas e copos de vidro.
3 Quando o bem-aventurado Francisco desceu da cela para comer, viu as mesas postas no alto e preparadas com requinte. 4 Logo saiu escondido, pegou o chapéu e o bastão de um pobre que ali chegara naquele dia e, chamando em voz baixa um de seus companheiros, foi para fora da porta do lugar, sem que os frades da casa o soubessem. 5 O companheiro, porém, ficou junto à porta do lado de dentro. Enquanto isso, os frades foram para a mesa, pois o bem-aventurado Francisco havia ordenado que os frades não o es­perassem, quando não chegasse logo na hora da refeição.
6 Tendo permanecido um pouco fora, bateu à porta, e seu companheiro logo lhe abriu. Chegando, com o chapéu às costas e o bastão nas mãos, foi para a porta da sala onde os frades co­miam e, como peregrino e pobre, gritou dizendo: “Por amor do Senhor Deus, dai uma esmola a este pobre, peregrino e doente!” 7 O ministro e os outros frades, porém, logo o reconheceram. E o ministro respondeu-lhe: “Irmão, também nós somos pobres e, sendo muitos, as esmolas que temos nos são necessárias. 8 Mas, por amor do Senhor que tu invocaste, entra na sala e te daremos das esmolas que o Senhor nos deu”.
9 Quando ele entrou e parou diante da mesa dos frades, o mi­nistro lhe deu a escudela em que comia e também pão. Recebendo-os, sentou-se humildemente no chão, perto do fogo, diante dos frades, sentados à mesa.
10 E, suspirando, disse aos frades: “Ao ver a mesa preparada com tanta honra e requinte, achei que não era a mesa de pobres religiosos que pedem esmola cada dia, de porta em porta. 11 Pois a nós, caríssimos, mais do que aos outros religiosos, convém seguir o exemplo de humildade e pobreza de Cristo, por­que a isso fomos chamados e assim professamos diante de Deus e dos homens. 12 Por isso, acho que agora estou sentado como um frade me­nor: pois as festas do Senhor e dos outros santos são honradas mais com a indigência e a pobreza, pela qual os santos ga­nharam o céu, do que com o requinte e a superfluidade, pelos quais a alma se distancia do céu”.
13 Os frades ficaram envergonhados com isso, considerando que ele dizia a pura verdade. E alguns deles, vendo-o sentado no chão e como quis corrigi-los e instruí-los tão santa e honestamente, começa­ram a chorar muito. 14 De fato, admoestava os fra­des a terem mesas tão humildes e honestas com as quais até os se­culares podiam se edificar e, se algum pobre aparecesse ou fosse convidado pelos frades, podia sentar-se como igual, ao lado de­les, e não o pobre no chão e os frades no alto.