Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Speculum perfectionis - 3

Caput 3. Qualiter respondit ministro volenti habere libros de licentia ejus, et qualiter ministri, ipso ignorante, fecerunt removeri de regula capitulum de prohibitionibus evangelii.

1 Quodam autem tempore, quando beatus Franciscus reversus fuit de ultra marinis partibus, quidam minister loquebatur secum de capitulo paupertatis, volens inde cognoscere suam voluntatem et intellectum; 2 maxime quia tunc erat scriptum in regula quoddam capitulum de prohibitionibus sancti evangelii, videlicet: Nihil tuleritis in via. etc.

3 Et respondit ei beatus Franciscus: « Ego sic intelligo quod fratres nihil debeant habere nisi vestimentum cum corda et femoralibus, sicut dicit regula. Et qui necessitate coguntur possint portare calciamenta »,

4 Et dixit ad eum minister: « Quid faciam ego qui tot libros habeo, qui valent ultra quinquaginta libras? ». Hoc autem dixit quia volebat eos habere de conscientia sua, quia cum reprehensione conscientiae habebat tot libros, sciens beatum Franciscum ita stricte intelligere capitulum paupertatis. 5 Et ait illi beatus Franciscus: « Nec volo, nec debeo, nec possum venire contra conscientiam meam et professionem sancti evangelii quam professi sumus ». Audiens haec minister effectus est tristis.

6 Videns autem beatus Franciscus ipsum ita turbatum, cum magno fervore spiritus dixit ei in persona omnium fratrum: « Vos vultis videri ab hominibus fratres Minores, et vocari observatores sancti evangelii, operibus autem vultis habere loculos! ».

7 Verumtamen licet ministri scirent quod secundum regulam fratres tenerentur sanctum evangelium observare, nihilominus fecerunt removeri de regula illud capitulum ubi dicitur: « Nihil tuleritis in via », etc., credentes se propter hoc non teneri ad observantiam perfectionis evangelii, 8 Quapropter beatus Franciscus cognoscens hoc per Spiritum sanctum, coram quibusdam fratribus dixit: « Putant fratres ministri Deum et me decipere. Immo, ut sciant omnes fratres se teneri ad observandam perfectionem sancti evangelii, volo quod in principio et in fine regulae sit scriptum quod fratres teneantur sanetum evangelium Domini nostri Jesu Christi firmiter observare. 9 Et ut fratres sint semper inexcusabiles ex quo ipsis annuntiavi et annuntio ea quae Dominus pro salute mea et sua posuit in ore meo, volo ipsa operibus ostendere coram Deo et, ipso cooperante, in perpetuum observare ».

10 Unde ipse ad litteram observavit totum sanctum evangelium, a principio ex quo coepit habere fratres usque ad diem mortis suae.

TEXTO TRADUZIDO

Espelho da Perfeição - 3

Capítulo 3. Como respondeu ao ministro que queria possuir livros com sua permissão e como os ministros, sem que ele o sou­besse, mandaram tirar da Regra o capítulo referente às proibi­ções do Evangelho.

1 Certa ocasião, quando o bem-aventurado Francisco havia regressado do ultramar, um ministro conversava com ele sobre o capí­tulo da pobreza, querendo conhecer sua vontade e maneira de ver, 2 principalmente porque havia, então, na Regra um capítulo escrito sobre as proi­bições do santo Evangelho, a saber: Nada leveis pelo caminho (Lc 9,3) etc.

3  São Francisco respondeu-lhe: “Eu entendo que os frades nada devem possuir a não ser o hábito com a corda e os calções, conforme diz a Regra. E os que forem obrigados pela necessida­de, podem usar calçados”.

4 E o ministro disse-lhe: “Que farei eu, que tenho muitos li­vros que valem mais de cinqüenta libras?” Ele disse isso, porque queria conservá-los com a consciência tranquila, pois tinha tantos livros com remorso, sabendo que São Francis­co interpretava tão estritamente o capítulo da pobreza. 5 São Francisco respondeu-lhe: “Não quero, não devo nem posso ir contra minha consciência e a profissão do santo Evangelho, que prometemos observar”. Ouvindo isso, o ministro ficou tris­te (cf. Mt 19,22).

6 Vendo-o tão perturbado, com grande fervor de espírito, disse-lhe São Francisco, na pessoa de todos os irmãos: “Vós quereis ser vistos pelos homens (cf. Mt 23,5.7) como Frades Menores e ser chamados observantes do santo Evangelho, mas desejais ter bolsas (cf. Jo 12,6) para as obras!”

7 Na verdade, embora os ministros soubessem que segundo a Regra os frades eram obrigados a observar o santo Evangelho, fi­zeram remover da Regra o capítulo onde se diz: “Nada leveis pelo caminho” (Lc 9,3),  etc., acreditando que com isto não seriam obrigados a observar a perfeição do Evangelho. 8 Por isso, o bem-aventurado Francisco, iluminado pelo Espírito Santo, disse na presença de alguns frades: “Os irmãos ministros pensam que enganam ao Senhor e a mim. Mais, para que todos os frades saibam que são obrigados a observar a perfeição do santo Evangelho, quero que no princípio e .no fim da Regra esteja escrito que os frades são obrigados a observar firmemente o santo Evangelho de nosso Se­nhor Jesus Cristo, 9 e para que os frades nunca tenham desculpas (cf. Rm 1,20), porque eu lhes anunciei e continuo a anun­ciar o que o Senhor pôs na minha boca (cf. Ex 4,15; Is 51,16) para a minha e a sua salvação, quero mostrá-lo em obras diante de Deus e, com sua ajuda, observá-lo para sempre”.

10 Por isso, ele observou ao pé da letra todo o santo Evange­lho, desde o princípio, quando começou a ter irmãos, até o dia de sua morte.