TEXTO ORIGINAL
Capitulum 5 - Beatus Franciscus laudat Paupertatem.
1 At ipsi responderunt dicentes: “Ad te venimus, domina nostra; obsecramus, suscipe nos in pace. Servi effici cupimus Domini virtutum, quia ipse est Rex glorie (cfr. Ps 23,10).
2 Audivimus te reginam fore virtutum et utcumque experimento didicimus.
3 Propterea, tuis pedibus provoluti, supplicamus humiliter ut digneris esse nobiscum et sis nobis via perveniendi ad Regem glorie, sicut fuisti via sibi, cum dignatus est visitare sedentes in tenebris et umbra mortis, oriens ex alto (cfr. Luc 1,79.78).
4 Scimus enim quod tua est potentia, tuum regnum, tu es super omnes (1Par 29,11) virtutes a Rege regum regina et domina constituta.
5 Tantum fac nobiscum pacem et salvi erimus, ut per te nos recipiat qui per te nos redemit. Si decreveris nos salvare, continuo liberabimur.
6 Nam ipse Rex regum et Dominus dominantium (Apoc 19,16), Creator celi et terre, concupivit speciem et decorem tuum (cfr. Ps 44,12).
7 Cum esset rex in accubitu suo (cfr. Cant 1,11), dives et gloriosus in regno suo, reliquit domum suam, dimisit hereditatem suam (cfr. Ier 12,7): nam gloria et divitie in domo eius (cfr. Ps 111,3).
8 Sicque a regalibus sedibus (cfr. Sap 18,15) veniens dignantissime te quesivit.
9 Magna ergo dignitas tua et altitudo incomparabilis, cum, relictis omnibus angelorum ordinibus et immensis virtutibus, de quibus magna erat copia in excelsis, venit te querere in inferioribus partibus terre, iacentem in luto fecis (cfr. Ps 39,3), in tenebrosis et umbra mortis (cfr. Ps 87,7).
10 Cunctis viventibus odiosa non modicum exsistebas et omnes te fugiebant et, prout poterant, effugabant.
11 Et, licet aliqui te fugere omnino non possent, non minus ideo eras eis odibilis et exosa.
12 At postquam dominator Dominus venit (cfr. Mal 3,1), te suscipiens in se ipso, exaltavit caput (cfr. Ps 109,7) tuum in tribubus populorum et quasi sponsam decoravit te corona (cfr. Is 61,10), super altitudinem nubium (cfr. Is 14,14) te sustollens.
13 Quamvis certe adhuc te innumeri detestentur, nescientes virtutem tuam et gloriam tuam (cfr. Ps 62,3), tibi tamen deperit nihil, quia libere habitas in montibus sanctis (cfr. Ps 86,1), in firmissimo habitaculo (cfr. 2Par 6,33) glorie Christi”.
TEXTO TRADUZIDO
Capítulo 5 – O bem-aventurado Francisco louva a Pobreza.
1 Eles responderam, dizendo: “Viemos a ti, senhora nossa, e pedimos: recebei-nos em paz. Queremos tornar-nos servos do Senhor das virtudes, porque Ele é o rei da glória.
2 Ouvimos dizer que és a rainha das virtudes e, de qualquer maneira, foi isso que aprendemos com a experiência.
3 Por isso, prostrados aos teus pés, suplicamos humildemente que te dignes estar conosco e sejas para nós o caminho que leva ao rei da glória, como foste caminho para Ele, quando se dignou visitar, vindo do alto, os que jaziam nas trevas e na sombra da morte (cfr. Lc 1,79.78).
4 Pois sabemos que teu é o poder, teu é o reino, tu estás acima de todas (1Cr 29,11) as virtudes, constituída pelo Rei dos reis como rainha e senhora.
5 É só fazeres a paz conosco e seremos salvos, para que por ti nos receba aquele que por ti nos remiu. Se determinares salvar-nos, ficaremos imediatamente livres.
6 Pois o próprio Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19,16), Criador do céu e da terra, desejou tua beleza e formosura (cfr. Sl 44,12).
7 Quando o rei estava em sua cama (cfr. Ct 1,11), rico e glorioso em seu reino, deixou sua casa, largou sua herança (cfr. Jr 12,7): pois a glória e a riqueza estão em sua casa (cfr. Sl 111,3).
8 E assim, vindo de seu trono real (cfr. Sb 18,15) te procurou dignissimamente.
9 Por isso é grande a tua dignidade e incomparável a tua altura, porque, deixando todas as ordens de anjos e as imensas virtudes, dos quais havia um grande número nas alturas, veio por curar-te nas partes inferiores da terra, a ti que jazias no lodo das fezes (cfr. Sl 39,3), nos lugares tenebrosos e na sombra da morte
10 Tu eras não pouco odiosa para todos os viventes, todos fugiam de ti e, quanto podiam, te afugentavam.
11 E, embora alguns não pudessem afugentar-te de maneira alguma, não eras menos odiosa e detestável para eles.
12 Mas, depois que veio o Senhor dominador (cfr. Ml 3,1), acolhendo-te nele mesmo, exaltou tua cabeça (cfr. Sl 109,7) diante das tribos dos povos e te ornou com uma coroa, como uma noiva (cfr. Is 61,10), elevando-te acima das nuvens (cfr. Is 14,14).
13 Embora seja certo que ainda há muitos que te detestam, ignorando tua virtude e tua glória (cfr. Sl 62,3), isso não te diminui em nada, porque habitas livremente nos montes santos (cfr. Sl 86,1), na casa firmíssima (cfr. 2Par 6,33) da glória de Cristo”.