Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

  • Fontes Franciscanas
  • Fontes Biográficas
  • Compilação de Assis

TEXTO ORIGINAL

Compilação de Assis - 97

[97] 
1 Immo quodam tempore cum visitaret dominum episcopum Hostiensem qui postea fuit papa, in hora comestionis quasi furtive propter dominum episcopum ivit pro helemosinis; 
2 et cum reversus fuit, dominus episcopus sedebat ad mensam et comedebat, maxime quia tunc invitaverat quosdam milites suos consanguineos ad comedendum.
3 Beatus Franciscus posuit helemosinas super mensam domini episcopi et intravit ad mensam iuxta dominum episcopum, quoniam dominus episcopus semper volebat quod, cum beatus Franciscus esset apud ipsum in hora comestionis, sederet iuxta ipsum. 
4 Et verecundatus est inde aliquantulum dominus episcopus eo quod ivit pro helemosina Franciscus, sed nichil dixit ei, maxime propter recumbentes. 
5 Postquam aliquantulum comedit beatus Franciscus, accepit de suis helemosinis et unicuique militi et capellanis domini episcopi parum misit ex parte Domini Dei. 
6 Qui omnes pariter cum multa devotione acceperunt, alii comedentes, alii reponentes propter eius devotionem. 
7 Immo extrahebant sibi infulas propter devotionem sancti Francisci cum accipiebant helemosinas. 
8 Et gavisus est inde dominus episcopus propter devotionem illorum, maxime quia ille helemosine non erant de pane triticeo. 
9 Post comestionem vero surrexit dominus episcopus et intravit cameram suam ducens secum beatum Franciscum, et elevans brachia sua amplexatus est beatum Franciscum pre nimio gaudio et exultatione dicens ei: 
10 “Cur, frater mi simplizone, fecisti michi verecundiam, ut in domo mea, que est domus fratrum tuorum, ires pro helemosinis?”. 
11 Respondit ei beatus Franciscus: “Immo, domine exhibui vobis magnum honorem, quoniam cum subditus exercet et implet suum officium et obedientiam sui domini, facit honorem domino suo et eius prelato”. 
12 Et ait ei: “Me oportet esse formam (cfr. 1The 1,7) et exemplum pauperum vestrorum, maxime quia scio quod in vita et in Religione fratrum sunt et erunt nomine et opere fratres Minores, qui propter amorem Domini Dei et Spiritus Sancti unctionem (cfr. 1Ioa 2,20.27), qui docet et docebit eos de omnibus, humiliabuntur ad omnem humilitatem, subiectionem et servitium fratrum suorum. 
13 Sunt etiam et erunt de illis qui aut verecundia detenti et propter malum exemplum dedignantur et dedignabuntur se humiliare et inclinare ad eundum pro helemosinis et facere huiusmodi servilia opera. 
14 Quapropter oportet me eos qui sunt et erunt in Religione opere docere ut sint inexcusabiles (crr. Rom 1,20) in hoc seculo et in futuro coram Deo. 
15 Existens quidem apud vos qui estis dominus et apostolicus noster, et apud magnates et divites secundum seculum, qui propter amorem Domini Dei cum multa devotione non tantum me recipiunt in domos suas sed etiam cogunt me, nolo verecundari ire pro helemosinis; 
16 immo volo habere et tenere secundum Deum pro magna nobilitate et regali dignitate et honore illius summi regis, qui cum sit Dominus omnium (Gal 4,1) pro nobis fieri voluit servus omnium, 
17 et cum esset dives (2Cor 8,9) et gloriosus in maiestate sua, pauper et despectus venit in humanitate nostra. 
18 Volo ergo quod sciant fratres qui sunt et erunt, quod pro maiori consolatione anime et corporis habeo, cum sedeo ad pauperculam mensam fratrum, 
19 et video coram me pauperculas helemosinas que acquiruntur ostiatim amore Domini Dei, quam cum sedeo ad vestram mensam et aliorum dominorum habundanter de omnibus cibis preparatam, licet cum devotione multa michi exhibeantur; 
20 panis enim helemosine est panis sanctus, quem sanctificat laus et amor Dei, quoniam cum frater vadit pro helemosina prius debet dicere: 
21 Laudatus et benedictus sit Dominus Deus (cfr. Ps 112,1.2; Luc 24,53), postea debet dicere: Facite nobis helemosinas amore Domini Dei”. 
22 Et plurimum fuit hedificatus dominus episcopus de collatione verborum sancti patris. 
23 Et dixit ad eum: “Fili, quod bonum est in oculis tuis facias (cfr. 1Re 14,36), quoniam Dominus tecum est (cfr. 2Re 7,3; Luc 1,28) et tu cum ipso”. 
24 Nam voluntas beati Francisci fuit, et etiam multotiens dixit, quod frater non deberet diu stare, quin iret pro helemosina, ut non verecundaretur postea ire. 
25 Immo quanto magis fuisset frater nobilis et magnus in seculo, tanto magis inde erat hedificatus et letabatur, cum iret pro helemosina et faceret huiusmodi servilia opera propter bonum exemplum. 
26 Quod ita fiebat antiquo tempore. 
27 Unde in primordio Religionis, cum manerent fratres apud Rigum Tortum, erat quidam frater inter eos qui parum orabat et non laborabat et pro helemosina ire nolebat, quoniam verecundabatur, sed bene comedebat; 
28 quapropter considerans hoc beatus Franciscus cognovit per Spiritum Sanctum, quod erat carnalis homo; 
29 unde dixit ad eum: “Vade viam tuam, frater musca, quoniam vis comedere laborem fratrum tuorum, et vis esse otiosus in opere (cfr. 1Cor 15,58) Dei, sicut frater apun, qui non vult lucrari et laborare et comedit laborem et lucrum bonarum apum”. 
30 Et sic ivit viam suam; et quia carnalis erat misericordiam non imploravit.

TEXTO TRADUZIDO

Compilação de Assis - 97

[97] 
1 Pois até, certa vez, quando foi visitar o senhor bispo de Hóstia, que depois foi papa, saiu como que furtivamente, por causa do senhor bispo, na hora da refeição, e foi pedir esmolas. 
2 Quando voltou, o senhor bispo estava sentado à mesa e comia, principalmente porque tinha alguns cavaleiros seus consanguíneos para o almoço. 
3 O bem-aventurado Francisco pôs as esmolas em cima da mesa do senhor bispo, e foi ficar na mesa junto do senhor bispo, porque o senhor bispo sempre queria que, quando o bem-aventurado Francisco estivesse em sua casa na hora da refeição, senta-se ao seu lado. 
4 E o senhor bispo ficou um pouco envergonhado por isso,, porque Francisco tinha isso pedir esmolas, mas não disse nada, principalmente por causa dos convidados. 
5 Depois de ter comido um pouco, o bem-aventurado Francisco pegou suas esmolas e deu, da parte do Senhor Deus, um pouco para cada cavaleiro ou capelão do senhor bispo. 
6 Todos receberam igualmente com muita devoção: alguns comeram, outros guardaram por devoção para com ele. 
7 Até tiravam seus chapéus por devoção a São Francisco quando recebiam as esmolas. 
8 O senhor bispo ficou contente pela devoção deles, principalmente porque aquelas esmolas não eram de pão de trigo. 
9 Depois da refeição, o bispo levantou-se e entrou em sua sala, levando consigo o bem-aventurado Francisco, e levantando os braços abraçou o bem-aventurado Francisco por causa da enorme alegria e exultação, dizendo-lhe: 
10 “Por que, meu irmão simplório, me fizeste passar essa vergonha de ir pedir esmola na minha casa, que é a casa dos teus frades? 
11 Respondeu-lhe o bem-aventurado Francisco: “Ao contrário, senhor, eu vos prestei uma grande honra, porque quando um súdito exerce e cumpre seu ofício e a obediência ao seu senhor, honra ao seu senhor e aos seu prelado”. 
12 E disse-lhe: “Eu tenho que ser a forma e o exemplo de vossos pobres, principalmente porque sei que na vida e na Religião dos frades há e haverá frades menores de nome e de fato, que pelo amor do Senhor Deus e pela unção do Espírito Santo, que os ensina e há de ensina-lo sobre tudo, vão se humilhar m toda humildade, submissão e serviço de seus irmãos. 
13 Também há e haverá daqueles que, ou detidos pela vergonha e por causa do mau exemplo acham e acharão indigno humilhar-se e rebaixar-se para ir pedir esmolas e fazer esse tipo de obras servis. 
14 Por isso é preciso que eu ensine por obra os que estão e estarão na Religião, para que não possam desculpar-se nem neste século nem no futuro diante de Deus”. 
15 Estando, pois, junto de vós, que sois nosso senhor e apostólico, e junto de magnatas e ricos segundo o século, que por amor do Senhor Deus não só me recebem com tanta devoção em suas casas mas até me obrigam a ficar com eles, não quero ter vergonha de ir pedir esmolas. 
16 Até quero ter e manter segundo deus como uma grande nobreza, dignidade real e honra daquele sumo rei que, mesmo sendo o senhor de tudo, por nós quis fazer-se o servo de todos. 
17 E sendo rico e glorioso em sua majestade, veio pobre e desprezado em nossa humanidade. 
18 Por isso quero que saibam os meus frades atuais e futuros que acho que é a maior consolação da alma e do corpo quando me assento à mesa pobrezinha dos frades, 
19 e vejo na minha frente as esmolas pobrezinhas que ganham de porta em porta por amor do Senhor Deus, mais do que quando me assento à vossa mesa ou dos outros senhores, preparada com abundância de todos os pratos, ainda que me estejam fazendo essa oferta com muita devoção. 
20 Porque o pão da esmola é um pão santo, santificado pelo louvor e pelo amor de deus, porque quando um frade vai pedir esmola deve dizer primeiro:
21 Louvado e bendito seja o Senhor Deus, e depois deve dizer: Dai-nos esmolas por amor do Senhor Deus”. 
22 E o senhor bispo ficou muito edificado com essa refeição de palavras do santo pai. 
23 E lhe disse: Filho, faz o que é bom aos teus olhos, porque o Senhor está contigo, e tu com Ele”. 
24 Pois era vontade do bem-aventurado Francisco, e ele disse isso muitas vezes, que um frade não devia passar muito tempo sem ir pedir esmolas, para que depois não ficassem envergonhado de ir. 
25 Até, quanto mais nobre e grande tivesse sido o frade no século, tanto mais ficava edificado e contente quando ia pedir esmolas e fazer esse tipo de obras servis, por causa do bom exemplo. 
26 Porque era assim que se fazia no tempo antigo. 
27 Por isso, no começo da Religião, quando os frades moravam em Rivotorto, havia um frade entre eles que orava pouco, não trabalhava e não queria ir pedir esmolas, porque ficava com vergonha; mas comia bem.
28 Por isso, levando em conta essas coisas, o bem-aventurado Francisco soube pelo Espírito Santo que se tratava de um homem carnal. 
29 Donde lhe disse; “Vá pelo teu caminho, irmão mosca, porque queres comer o trabalho de teus irmãos, e queres ser ocioso na obra de Deus, como o irmão zangão, que não quer produzir e trabalhar e come o trabalho e o lucro das boas abelhas”. 
30 E assim ele foi pelo seu caminho; e como era carnal, não implorou misericórdia.