Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Compilação de Assis

TEXTO ORIGINAL

Compilação de Assis - 96

[96] 
1 Post reversionem de Senis et de Cella Cortone venit beatus Franciscus apud ecclesiam Sancte Marie de Portiuncula, et postea ivit ad manendum in loco Bagnarie super civitatem Nucerii: 
2 ibi de novo erat constructa quedam domus pro fratribus ubi fratres morarentur. 
3 Et mansit ibi per plurimos dies. 
4 Et quia iam ceperant pedes eius, etiam crura, intumescere ex infirmitate hydropisis, cepit ibi plurimum infirmare. 
5 Cumque audirent homines Assisii quod infirmaretur ibi, venerunt festinanter quidam milites Assisii ad locum illum ut ducerent ipsum apud Assisium, timentes ne ibi moreretur et alli haberent sanctissimum corpus eius. 
6 Et factum est dum ducerent ipsum infirmum, requierunt in quodam castro de comitatu Assisii, volentes ibi prandere. 
7 Beatus Franciscus cum sociis suis requievit in domo cuiusdam hominis, qui cum hilaritate et caritate multa suscepit ipsum. 
8 Milites vero iverunt per castrum ut emerent sibi necessaria corporis, sed non invenerunt. 
9 Et reversi sunt ad beatum Franciscum dicentes ei quasi ludendo: “Oportet, frater, ut detis nobis de helemosinis vestris, quoniam nichil habere possumus ad emendum”. 
10 Et dixit ad eos beatus Franciscus cum magno fervore spiritus: “Ideo non invenistis, quia confiditis in vestris muscis, videlicet in denariis, et non in Deo (cfr. Mat 27,43); 
11 sed revertimini per domos per quas ivistis querendo ad emendum, et nolite verecundari, et queratis eis amore Dei helemosinas, et Spiritus Sanctus inspirabit eis et habundanter invenietis”. 
12 Iverunt ergo et petierunt helemosinas, sicut dixerat eis sanctus pater, et habundanter de rebus quas habebant homines illi et mulieres cum hilari[ta]te maxima exhibuerunt illis. 
13 Et reversi sunt plurimum gaudentes ad beatum Franciscum narrantes ei sicut illis acciderat. 
14 Unde pro magno miraculo habuerunt, considerantes quod ad litteram verum fuit sicut illis predixerat. 
15 Nam beatus Franciscus pro maxima nobilitate, dignitate et curialitate secundum Deum et etiam secundum seculum istud habebat, scilicet petere helemosinas amore Domini Dei: 
16 quoniam omnia, que Pater celestis pro utilitate hominis creavit, propter amorem dilecti Filii sui dignis et indignis gratis, pro helemosina, concessa sunt post peccatum. 
17 Unde dicebat beatus Franciscus quod magis libere et cum hilaritate servus Dei helemosinas amore Domini Dei petere debet quam ille qui pro sua curialitate et largitate, cum vellet aliquid emere, iret dicendo: 
18 “Quicumque dabit michi talem nummatam, dabo sibi centum marchas argenti, immo milies plus: 
19 quoniam servus Dei offert amorem Dei quem meretur homo qui facit helemosinas, in cuius comparatione omnia que sunt in hoc seculo nichil sunt (cfr. Sap 7,8), et etiam que in celo”. 
20 Unde antequam fratres essent multiplicati [ac etiam postquam multiplicati] fuerunt, cum iret per mundum predicando beatus Franciscus, cum aliquis nobilis et dives homo cum devotione rogaret ipsum ut comederet in domo sua et apud ipsum hospitaretur, 
21 quoniam in multis civitatibus et castris ad quos ibat predicaturus tempore suo non erant loca fratrum, 
22 licet nosset quod ille, qui invitaret ipsum, omnia necessaria corporis habundanter amore Domini Dei preparasset, tamen ipse propter bonum exemplum fratrum et propter nobilitatem et dignitatem domine paupertatis in hora comestionis ibat pro helemosina, 
23 ac aliquando dicebat illi qui invitaverat ipsum: “Ego nolo dimittere dignitatem meam regalem et hereditatem et vocationem et professionem meam et fratrum Minorum, 
24 videlicet ire pro helemosina, etiamsi non amplius apportarem quam tres helemosinas, quoniam volo exercere officium meum”. 
25 Et sic [ipso] nolente, ibat pro helemosinis, et ille qui invitaverat ipsum ibat cum ipso, et helemosinas quas acquirebat beatus Franciscus accipiebat et pro reliquiis propter eius devotionem reponebat 
26 Qui scripsit vidit multotiens et perhibuit testimonium (cfr. Ioa 21,24).

TEXTO TRADUZIDO

Compilação de Assis - 96

[96] 
1 Depois da volta de Sena e de Celle de Cortona, o bem-aventurado Francisco foi para junto da igreja de Santa Maria da Porciúncula, e depois foi ficar no lugar de Bagnaria, acima de Nocera. 
2 Fazia pouco tempo que tinha construído aí uma casa para os frades, para que ali morassem. 
3 E lá ficou por muitos dias. 
4 E como seus pés, e também as pernas, já tinham começado a inchar por causa da hidropisia, começou a ficar muito doente nesse lugar. 
5 Quando as pessoas de Assis ouviram dizer que ele estava doente lá, vieram rapidamente alguns soldados de Assis àquele lugar para leva-lo para Assis, com medo de que morresse ali e outros ficassem com o seu santíssimo corpo. 
6 E aconteceu que quando o estavam levando doente, descansaram num castro do condado de Assis, querendo almoçar aí. 
7 O bem-aventurado Francisco com seus companheiros descansou na casa de um homem que o acolheu com alegria e caridade. 
8 Mas os soldados foram pelo castro para comprar o que era necessário para seu corpo, mas não encontraram. 
9 Voltaram ao bem-aventurado Francisco dizendo-lhe, em brincadeira: “Irmão, vai ser preciso que nos d6es de tuas esmolas, porque não encontramos nada para comprar”. 
10 E o bem-aventurado Francisco disse-lhes com grande fervor de espírito: “Não encontrastes porque confiastes em vossas moscas, isto é, no dinheiro, e não em deus; 
11 mas voltai pelas casas às quais já fostes pedindo para comprar e, sem ficar envergonhados, pecai-lhes esmolas por amor de Deus, que o Espírito Santo vai inspira-los e encontrareis com abundância”. 
12 Por isso eles foram e pediram esmolas, como lhes dissera o santo pai, e aqueles homens e mulheres lhes deram abundantemente, de tudo que tinham, divertindo-se a valer. 
13 E e voltaram muito alegres ao bem-aventurado Francisco contando-lhe o que tinha acontecido. 
14 E tiveram isso por um grande milagre, considerando que na verdade aconteceu à letra o que lhes tinha predito. 
15 Pois o bem-aventurado Francisco tinha como a maior nobreza, dignidade e cortesia segundo deus e também segundo este século, pedir esmolas por amor de Deus. 
16 Porque tudo que o Pai celeste criou foi para a utilidade do homem, por amor do seu dileto filho, e continua a concede-lo de graça e por esmola depois do pecado, aos dignos e indignos, por amor de seu dileto Filho. 
17 Por isso o bem-aventurado Francisco dizia que o servo de Deus deve ir pedir esmolas por amor de deus como mais liberdade do que uma pessoa que, por sua cortesia e liberalidade, querendo comprar alguma coisa, saísse dizendo: 
18 “A quem me der tal moeda, darei cem marcos de prata, e até mil vezes mais: 
19 porque o servo de Deus oferece o amor de Deus que é merecido pela pessoa que dá esmolas, em cuja comparação tudo que existe neste século e também o que há no céu não é nada”. 
20 Por isso, antes que os frades se tivessem multiplicado [e mesmo depois que se multiplicaram], quando o bem-aventurado Francisco ia pregando pelo mundo, se alguma pessoa nobre e rica com devoção insistisse com ele para comer em sua casa e lá hospedar-se, 
21 porque em muitas cidades e castros em que ia pregar ainda não havia lugares dos frades, no seu tempo, 
22 ainda que soubesse que a pessoa que o estava convidando tinha preparado abundantemente tudo que é necessário ao corpo por amor do Senhor Deus, ele, para dar bom exemplo aos frades e pela nobreza e dignidade da senhora pobreza, na hora da refeição ia pedir esmolas. 
23 E algumas vezes dizia aos que o tinham convidado: “Eu não quero deixar a minha dignidade real, a herança, a vocação e a minha profissão e dos frades menores. 
24 Isso quer dizer ir pedir esmolas, mesmo que não traga mais do que três esmolas, porque quero exercer o meu ofício”. 
25 E ia pedir esmolas contra a vontade de quem convidara, que saía com ele, e recebia as esmolas que o bem-aventurado Francisco conseguia e, por devoção a ele, guardava-as como relíquia. 
26 Quem escreveu viu isso muitas vezes, e deu testemunho.