Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Tomás de Celano
  • Tratado dos Milagres (3Cel)

TEXTO ORIGINAL

Tractatus de Miraculis (3Cel) - 10

10 
1 In tantum ab ipso nativitatis exordio sensualibus rudimentis et grossis phantasmatibus humana ratio irretitur, ut imaginatione fluctivaga, quidquid credendum est, cogatur quandoque in dubium revocare. 
2 Propter quod non modo sanctorum gesta mirifica difficile credimus, sed plerumque in rebus salutis multos patitur obices ipsa fides. 
3 Frater enim quidam Ordine Minor, officio praedicator, vita solemnis, cui firmiter erat de sanctis stigmatibus persuasum, dum vel consueta sequitur vel extra miratur, incipit de sancti miraculo dubitationis scrupulo titillari. 
4 Videres pugnam in suo animo constitutam, defendente ratione veritatis partem, ingerente semper contrarium phantasia. 
5 Ponit ratio multis adminiculis coadiuta, sic esse ut dicitur, et cum caetera deficerent inductiva, creditae a sancta Ecclesia innititur veritati. 
6 Coniurant ex opposito umbrae sensuales adversus miraculum, quod et toti videatur naturae contrarium, et omnibus saeculis inauditum (cfr. Ioa 9,32). 
7 Quodam sero fatigatus hac lucta, cubiculum intrat, debilem secum perferens rationem, rigidam magis proterviam phantasiae. 
8 Apparuit dormienti sanctus Franciscus pedibus lutulentis, humiliter durus et patienter iratus. 
9 Et “quae sunt” ait, “ista in te conflictationum certamina? Quae dubitationum sordes? Vide manus meas (cfr. Ioa 20,27) et pedes meos!”. 
10 Cumque ille manus videret confixas, lutulentorum pedum stigmata non videbat. 
11 “Remove”, inquit, “lutum a pedibus meis et cognosce loca clavorum (cfr. Ioa 20,25)! 
12 Apprehendens ille sancti pedes, lutum sibi videtur abstergere, locaque clavorum manibus contrectare (cfr. 1Ioa 1,1). 
13 Continuo, ut evigilat frater, lacrimis irrigatur, et priores affectus quodammodo lutulentos publica confessione detergit.

TEXTO TRADUZIDO

Tratado dos Milagres (3Cel) - 10

10 
1 Entretanto, desde o seu despertar, a razão humana se deixa enredar por sensações grosseiras ou por fantasias falaciosas, e, dominada por uma imaginação instável, se vê obrigada, às vezes, a pôr em dúvida o que tem que acreditar. 
2 É por isso que não só achamos difícil crer nos gestos maravilhosos dos santos mas nossa própria fé encontra muitas dificuldades nas coisas da salvação. 
3 Um frade menor, pregador por ofício e de vida louvável, firmemente convencido dos santos estigmas, começou a sentir o escrúpulo da dúvida sobre o santo milagre, quando estava fazendo o que costumava ou pensando em outras coisas. 
4 Podes imaginar a luta que se levantou dentro dele, com a razão defendendo a verdade mas a fantasia sugerindo o contrário. 
5 A razão sustentada por muitos apoios, admite que é assim como se diz, e, na falta de ulteriores argumentos, crê na verdade proposta pela santa Igreja. 
6 Do outro lado, conjuram as sombras sensuais contra o milagre, que parece totalmente contrário à natureza e algo inaudito desde todos os séculos. 
7 Uma noite, entrou na cela cansado dessa luta, levando consigo uma razão enfraquecida e uma imaginação ainda mais forte. 
8 Quando estava dormindo, São Francisco lhe apareceu com os pés cheios de barro, humildemente duro e pacientemente irado. 
9 Disse: “Que são esses conflitos em tua alma, que são essas dúvidas indignas? Olha minhas mãos (cfr. Jo 20,27) e meus pés!” 
10 Ele via as mãos perfuradas, mas não enxergava os estigmas dos pés por causa do barro. 
11 “Tira a lama de meus pés, disse o santo, para ver o lugar dos cravos (cfr. Jo 20,25)!” Ele se viu tomando os pés do santo, limpando o barro e tocando com as mãos o lugar dos cravos. 
13 Logo que acordou, o frade se banhou em lágrimas e, por uma confissão pública, limpou os sentimentos enlameados que tivera.