Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Tratado dos Milagres (3Cel)

TEXTO ORIGINAL

Tractatus de Miraculis (3Cel) - 6


1 Apud Potentiam, regni Apuliae civitatem, erat clericus quidam, Rogerius nomine, vir honorabilis et maioris ecclesiae canonicus. 
2 Hic cum longa foret infirmitate quassatus, die quadam ecclesiam pro sanitate oraturus intravit, in qua erat imago beati Francisci depicta, gloriosa stigmata repraesentans. 
3 Et accedens, coram imagine supplex ad orandum tota devotione prosternitur. 
4 Verum oculos figens in stigmatibus sancti, cogitationes per inania trahit, et reptim subintrantem dubitationis aculeum rationis studio non repellit. 
5 Nam illudente sibi hoste antiquo, dilacerato corde, coepit dicere apud se: “Esset hoc verum, ut tali claruisset iste sanctus miraculo, an suorum pia fuit illusio? 
6 Simulata”, inquit, “fuit inventio, et fortassis a fratribus inventa deceptio. 
7 Sensum hoc humanum excederet, et ab omni rationis iudicio procul esset”. 
8 O dementiam hominis! Tanto propterea, insipiens, divinum illud venerari debebas humilius, quanto et a te minus poterat comprehendi. 
9 Scire tuum erat, si ratione vigebas, quoniam facillimum Deo est novis semper mundum innovare miraculis, semper ad suam gloriam operari in nobis (cfr. 2Cor 4,12), quae non est in aliis operatus. 
10 Quid plura? Cogitanti frivola durum a Deo vulnus infligitur, ut discat ex iis quae patitur (cfr. Heb 5,8) non blasphemare. 
11 Subito in palma manus sinistrae percutitur, quia sinister erat, sonum audiens quasi cum spiculum prosilit de ballista. 
12 Moxque tam vulnere saucius (cfr. 2Mac 14,45) quam sonitu stupefactus, chirothecam de manu trahit, quia chirothecatus erat. 
13 Cumque nulla fuisset prius in palma percussio, conspexit in medio manus plagam quasi sagittae ictum, ex qua tanta vis procedebat ardoris, ut totus sibi videretur in ardore deficere. 
14 Mirabile dictu! Nullum in chirotheca vestigium apparebat, ut latenti plagae cordis latentis poena vulneris responderet.

TEXTO TRADUZIDO

Tratado dos Milagres (3Cel) - 6


1 Havia em Potenza, cidade do reino da Apúlia, um clérigo chamado Rogério, homem honrado e cônego da igreja principal. 
2 Abatido por longa doença, entrou um dia, para rezar pela saúde, em uma igreja onde havia um quadro de São Francisco que representava os gloriosos estigmas.
3 Chegou e se ajoelhou suplicante para rezar com toda devoção. 
4 Mas, quando olhou para os estigmas do santo, começou a pensar bobagens e sua razão não tratou de repelir o aguilhão da dúvida, que entrou despercebidamente. 
5 Iludido pelo inimigo antigo, de coração dilacerado, começou a pensar: “Será que isso é verdadeiro, que esse santo brilhou mesmo por esse santo milagre, ou foi uma piedosa ilusão dos seus amigos? 
6 “Deve ser uma simulação, dizia, uma invenção e talvez uma fraude criada pelos frades. 
7 Seria demais para o senso humano e estaria bem longe de uma razão sadia”. 
8 Como é louco o homem! Tu que nada sabes deverias venerar mais humildemente o que é divino quanto menos podes compreender! 
9 Devias saber, se tens razão, que é facílimo para Deus renovar sempre o mundo com milagres, agir sempre em nós t (cfr. 2Cor 4,12) para sua glória, fazer coisas que não fez com outros. 
10 E então? Deus mandou uma dura ferida ao que estava pensando essas frivolidades, para que aprendesse pelo que sofria a não blasfemar. 
11 Foi atingido de repente na palma da mão esquerda, pois era canhoto, e ouviu o som como o de uma flecha lançada por uma bésta. 
12 Perpassado de dor pela ferida e de espanto pelo ruído, tirou a luva (pois estava de luvas). 
13 Antes não tinha nenhuma ferida na palma, mas viu no meio da mão uma chaga como um golpe de flecha. Vinha daí um ardor tão forte que ele parecia desmaiar de febre. 
14 O espantoso é que não havia nenhum sinal na luva, de modo que à chaga escondida do coração correspondia à pena de uma ferida escondida.