Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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  • Tomás de Celano
  • Primeira Vida (1Cel)

TEXTO ORIGINAL

Prima Vita (1Cel) - 114

114. 
1 O singulare donum et praerogativae dilectionis indicium, iisdem gloriae armis militem adornari quae soli Regi excellentissima dignitate conveniunt! 
2 O aeterna memoria dignum miraculum, et sine omni intermissione (cfr. Ps 111,7; Rom 1,9) admirabili reverentia memorabile sacramentum, quod oculata fide illud misterium repraesentabat, in quo Agni immaculati sanguis (cfr. 1Pet 1,19), per quinque foramina copiosissime manans, lavit crimina mundi (cfr. Apoc 1,5)! 
3 O sublime decus crucis vivificae, mortuis vitam praestans, cuius onus tam premit suaviter et tam dulciter pungit, ut in ea mortua caro vivat, et infirmus spiritus roboretur! 
4 Hic te dilexit multum (cfr. Luc 7,47), quem sic gloriosissime decorasti! 
5 Gloria et benedictio soli sapienti Deo (cfr. Apoc 5,13; Rom 16,27), qui innovat signa et mutat mirabilia (cfr. Sir 36,6), ut infirmorum mentes novis revelationibus consoletur, et ut per visibilium mirabile opus (cfr. Ps 138,14) ipsorum corda amore invisibilium rapiantur! 
6 O mira et amabilis dispositio Dei, quae, ut nulla de miraculi novitate posset oriri suspicio, primo misericorditer ostendit in eo qui de caelis erat (cfr. Ioa 3,13.31), quod mirabiliter paulo post facturus erat in eo qui degebat in terris! 
7 Et quidem indicare voluit verus Pater misericordiarum, (cfr. 2Cor 1,3) quanto praemio dignus sit, qui eum diligere studuerit toto corde (cfr. Mat 22,37), ut in superiore scilicet ac sibi vicioniore supercaelestium spirituum ordine colloce-tur. 
8 Quod utique indubitanter adipisci poterimus, si more Seraphim duas alas extenderimus supra caput (cfr. Ez 1,22.23), habentes videlicet, beati Francisci exemplo, in omni opere bono intentionem puram et operationem rectam, et his directis ad Deum, soli sibi placere in omnibus infatigabiliter studuerimus. 
9 Quae ad velandum caput necessario coniunguntur, quia rectitudinem operis absque puritate intentionis et e converso Pater luminum (cfr. Iac 1,17) minime acceptabit, ipso dicente: 
10 Si oculus tuus fuerit simplex, totum corpus tuum lucidum erit, si autem nequam fuerit, totum corpus tenebrosum erit (cfr. Mat 6,22,23). 
11 Oculus namque simplex non est qui non videt quod est videndum, cognitione veritatis carens, aut quod non videndum fuerit intuetur, intentionem puram non habens. 
12 In primo non simplicem sed caecum, in secundo nequam ipsum aperta ratio iudicabit. 
13 Pennae harum alarum (cfr. Ez 1,23.24) sunt amor Patris salvantis misericorditer, et timor Domini (cfr. Sir, 1,11) iudicantis terribiliter, quae animos electorum, malos reprimendo motus et castos ordinando affectus, debent suspendere a terrenis. 
14 Duabus quoque alis volandum (cfr. Is 6,2) est ad impendendam duplicem proximo charitatem, reficiendo videlicet animam verbo Dei (cfr. Luc 4,4), et corpus terreno subsidio sustentando. 
15 Quae alae rarissime coniunguntur (cfr. Ez 1,11), quia vix utrumque valet ab aliquo adimpleri. 
16 Pennae harum diversa sunt opera, quae ad consilium et auxilium requiruntur, proximo exhibenda. 
17 Duabus denique alis tegendum est corpus (cfr. Ez 1,11) nudum meritis, quod tunc ordinate impletur, cum scilicet, quoties peccato interveniente fuerit denudatum, contritionis atque confessionis innocentia revestitur. 
18 Pennae harum multimodae affectiones sunt, quae ex peccatorum exsecratione et appetitu iustitiae procreantur.

TEXTO TRADUZIDO

Primeira Vida (1Cel) - 114

114. 
1 Ó dom singular, sinal de predileção: o soldado estava ornado com as mesmas armas gloriosas que cabiam unicamente ao Rei por sua altíssima dignidade!
2 Ó milagre digno de eterna memória, prodígio para ser admirado reverentemente sem cessar, porque representa aos olhos da fé o mistério em que o sangue do Cordeiro imaculado correu copiosamente pelas cinco chagas e lavou os crimes do mundo! 
3 O’ esplendor sublime de uma cruz vivificante, que dá vida aos mortos, cujo peso oprime com tanta suavidade e fere com tanta doçura que faz o corpo morto reviver e dá força ao espírito combalido! 
4 Amou-te muito aquele que ornaste com tanta glória! 
5 Glória e bênção sejam dadas só ao Deus sábio que renova os sinais e muda as maravilhas, para que a mente dos fracos se console com as novas revelações, e para que, pela prodígio das coisas visíveis, seu coração seja arrebatado de amor pelas coisas invisíveis! 
6 Estupendo e amável desígnio de Deus! Para prevenir as desculpas da nossa incredulidade diante da raridade do prodígio, quis primeiro realizar naquele que veio do céu o milagre que Ele ia fazer pouco depois num habitante da terra! 
7 Assim quis o Pai de misericórdia mostrar que prêmio merece quem procura amá-lo de todo o coração, pois o colocou na mais elevada ordem de espíritos celestes, a que dele está mais próxima. 
8 Também nós chegaremos lá, sem dúvida nenhuma, se, à maneira do Serafim, estendermos duas asas acima da cabeça: isto é, se como São Francisco dirigirmos para Deus uma intenção pura e um reto modo de agir em toda obra boa, tratando infatigavelmente de agradá-lo acima de tudo. 
9 Elas têm que se juntar para velar a cabeça, porque o Pai das luzes, que disse: 
10 “Se o teu olho for puro, todo o teu corpo será luminoso, mas se for mau, todo o teu corpo será tenebroso” (cfr. Mt 6,22,23) não vai aceitar como boa uma obra feita sem reta intenção, e de nada valerá a reta intenção que não levar a uma obra boa. 
11 Não é puro o olho que não vê o que deve por falta de conhecimento da verdade, ou que olha para o que não deve ver, por falta de intenção pura. 
12 No primeiro caso, não é puro mas cego, e no segundo, está claro que é mau. 
13 As penas dessas asas são o amor do Pai, que salva com misericórdia, e o temor do Senhor, que julga com inflexibilidade: elas é que devem suspender das coisas terrenas o pensamento dos eleitos, reprimindo as tendências más e suscitando castos sentimentos. 
14 Outras duas asas são para voar e cumprir o duplo dever de caridade para com o próximo: alimentar-lhe a alma com a palavra de Deus e sustentar-lhe o corpo com os recursos da terra. 
15 Estas asas raramente se juntam, porque é difícil para uma só pessoa cumprir as duas tarefas. 
16 Suas penas são as diversas obras necessárias para aconselhar e ajudar o próximo. 
17 Com as duas últimas asas, devemos envolver o corpo despido de merecimentos. Nós o conseguimos se, todas as vezes que tiver sido despido pelo pecado, o revestirmos de inocência pela contrição e a confissão. 
18 Suas penas são os múltiplos afetos que nascem da execração do pecado e da sede de justiça.