Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

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TEXTO ORIGINAL

Legenda Maior - IV,7


1 Multi etiam non solum devotione compuncti, sed et perfectionis Christi desiderio inflammati, omni mundanorum vanitate contempta, Francisci vestigia sequebantur, qui quotidianis succrescentes profectibus, usque ad fines orbis terrae (cfr. Ps 18,5) celeriter pervenerunt. 
2 Faciebat namque sancta paupertas, quam solam deferebant pro sumptibus, ipsos ad omnem obedientiam promptos, robustos ad labores et ad itinera expeditos. 
3 Et quia nihil terrenum habebant, nihil amabant nihilque timebant amittere; securi erant ubique, nullo pavore suspensi, nulla cura distracti, tamquam qui absque mentis turbatione vivebant et sine sollicitudine diem crastinum et serotinum hospitium exspectabant. 
4 Multa quidem eis in diversis partibus orbis inferebantur convicia tamquam personis despicabilibus et ignotis, verum amor Evangelii Christi adeo ipsos patientes effecerat, ut quaererent potius ibi esse, ubi persecutionem paterentur in corpore, quam ubi, cognita sanctitate ipsorum, mundano possent gloriari favore. 
5 Ipsa quoque rerum penuria superabundans eis videbatur ubertas, dum iuxta consilium Sapientis pro magno ipsis minimum (cfr. Sir 29,30) complacebat. 
6 Sane cum ad infidelium partes aliqui ex fratribus pervenissent, contigit, ut quidam Saracenus, pietate commotus, pecuniam eis offerret pro necessario victu; illis autem recusantibus accipere, admiratus est homo, cernens quod inopes essent. 
7 Intellecto tandem, quod amore Dei pauperes effecti, pecuniam possidere nolebant, tanta est eis affectione coniunctus, ut offerret se ad ministrandum necessaria (cfr. 3Re 4,7) omnia, quamdiu facultatum sibi aliquid superesset. 
8 O inaestimabilis pretiositas paupertatis, cuius miranda virtute mens feritatis barbaricae in tantam miserationis est immutata dulcedinem! 
9 Horrendum proinde ac nefarium scelus, ut hanc margaritam nobilem vir christianus conculcet (cfr. Mat 7,6), quam tanta veneratione extulit Saracenus.

TEXTO TRADUZIDO

Legenda Maior - IV,7


1 Da mesma forma, muitos, não só compungidos pela devoção, mas também inflamados pelo desejo de Cristo, desprezando toda a vaidade dos mundanos, seguiam os vestígios de Francisco. Estes, crescendo com os que chegavam cada dia, bem depressa alcançaram todos os confins da terra. 
2 Pois a santa pobreza, única coisa que levavam como provisão, tornava-os prontos para qualquer obediência, fortes para o trabalho e rápidos para as viagens. 
3 Como não tinham nada de terreno, não estavam presos por nenhum amor e não tinham medo de perder nada, estavam seguros em qualquer lugar, não ficavam suspensos por nenhum medo, não se distraíam por nenhum cuidado, viviam como quem não tem nada com se que preocupar e, sem pensar no dia seguinte, esperavam tranquilos a hospedagem da tarde. 
4 Na verdade, em diversas partes do mundo, causavam-lhes maus tratos, como a pessoas desprezíveis e desconhecidas, mas o amor do Evangelho de Cristo tornara-os tão pacientes, que preferiam ir para os lugares onde sofreriam perseguições corporais do que onde, conhecida sua santidade, pudessem gloriar-se do favor humano. 
5 Para eles, a própria penúria de coisas parecia abundância, pois, segundo o conselho do Sábio, agradava-lhes o mínimo como o muito (cfr. Sr 29,30) 
6 De fato, quando alguns deles chegaram nas terras dos infiéis aconteceu que um sarraceno, com pena, ofereceu-lhes dinheiro para a comida de que precisavam, mas, como eles recusaram, o homem ficou admirado, vendo que eram pobres. 
7 Quando compreendeu, afinal, que, tendo-se feito pobres por amor de Deus, não queriam possuir dinheiro, uniu-se a eles por tão grande afeição, que se ofereceu para dar-lhes tudo que fosse necessário, quando sobrasse alguma coisa de suas posses. 
8 Ó inestimável preciosidade da pobreza, por cuja maravilhosa virtude a ferocidade bárbara de uma mente sarracena mudou-se em tão grande doçura de comiseração. 
9 Por isso seria um crime horroroso e detestável se um cristão pisasse esta nobre pérola que um sarraceno exaltou com tanta veneração.