Página de Estudos das Fontes Pesquisadas

  • Fontes Clarianas
  • Documentos Papais
  • Gregório IX

17. Angelis Gaudium (1238)

É um documento importante para entendermos Clara, Inês e Hugolino. Nesta carta, de 11 de maio de 1238, Gregório IX, que tinha sido tão atencioso com Inês de Praga nas cartas precedentes, recusa o pedido feito por ela. De fato, Inês estava pedindo para seguir as “observâncias” de São Damião, o que lhe daria oportunidade de completar possivelmente uma nova Regra, que estaria preparando com outros elementos, o que podemos entender lendo o final da terceira Carta de Santa Clara. Gregório IX afirma que a própria Clara fez profissão de observar as Constituições, ou Regra, dele. E é essa Regra que ele impõe a Praga. O texto latino está em BF I, págs. 242-245, n. 264.

TEXTO ORIGINAL

17. Angelis Gaudium (1238)

Dilectae filiae Agneti ancillae Christi et gloriosae Virgini in mulieribus benedictae salutem et apostolicam benedictionem
1 Angelis gaudium , et conversis ad Dominum super eo devotionis augmentum advenisse credimus, quod regularem apparatum abjiciens assumpsisti paupertatis habitum; ut vestigia Regis aeterni sequentibus promissa percipere valeas praemia supernorum. Verum, ut in hac parte, auctore Domino, dirigi tua possit intentio, et compleri, est tibi sollicite vigilandum; ut quantumcumque cor tuum, inspirante Domino, ad virtutum observantiam inflametur; ad cultum obedientiae prompta semper, et facilis pro illius gloria, qui usque ad mortem crucis est Patri factus obediens, habeatis. 
2 Cum igitur Nos, licet immeriti, universitatis fidelium Patres simus a Domino constituti, hoc gerentes corde praecipuum quod, propitiante Deo, per nostrae servitutis officium salus provenire valeat animarum, monita nostra debes et devota mente suscipere et efficacis diligentiae studiis adimplere; praesertim super iis in quibus hoc solum agitur, quod gratum Conditori omnium habeatur. 
3 Sane filia benedictionis, et gratiae, cum Nobis adhuc in minori constitutis officio, dilecta in Chrito filia Clara abbatissa Monasterii Sancti Damiani de Assisio, et quaedam aliae devotae in Domino mulieres, postposita vanitate seculi, ellegissent eidem sub religionis observantia famulari; ipsius Beatus Franciscus, quibus tamquam modo genitis non cibum solidum sed qui videbat competere, potum lactis formulam vitae tradidit; quampridem Nobis in quadam schedula per dilectum filium priorem hospitalis Sancti Francisci pragensis virum ubique discretum, et providum destinati humili supplicatione deposcens, ut praesentatam Nobis per eumdem sub sigillo tuo formam confectam ex praedicta formula, et quibusdam capitulis, quae in Ordinis Beati Damiani Regula continentur, confirmari auctoritate Apostolica curaremus. Nos quidem ad rationis consilium recurrentes ex diversis causis expedire non vidimus, quod id ad complementi gratiam duceremus. 
4 Primo, quia praedictam Regulam studio compositam vigilanti et acceptatam a praedicto Sancto, nec non per felicis recordationis Honorium Papam praedecessorem nostrum postmodum confirmatam dictae Clara et sorores, concesso ipsis ab eodem intercedentibus Nobis exemptionis privilegio solemniter sunt professae. 
5 Secundo quia ipsae formula praedicta postposita, eamdem Regulam a professionis tempore usque nunc laudabiliter observarunt. 6 Tertio quia, cum sit ita statutum, ut ubique ab omnibus eamdem profitentibus uniformiter observetur, ex praesumptione contrarii grave posset, ac importabile scandalum exoriri. Praesertim quia ceterae sorores praefati Ordinis, dum integritatem Regulae sic violatam attendent, turbatis mentibus in ipsius observantia, quod avertat Dominus, titubarent. 7 Rogamus itaque devotionem tuam , et obedientiam in Domino Jesu Christo, in remissionem tuorum peccatorum injungentes , quatenus praemissa solerti meditatione considerans, et prudenter advertens, quod quidquid tibi suggeratur ab aliquo forte zelum, sed secundum scientiam non habente, id in tuis affectibus debeat haberi potissimum, quod Deo placitum et acceptum Nobis, salutare tibi et proximis esse valeat, annuente clementia Redemptoris, praedictam Regulam omni occasione postposita, diligenter observes, et a tuis sororibus observari procures, ineffabili spe tibi proposita, quod per hoc animae tuae de misericordia divina proveniat, ut mereatur gemmis adornari, quibus coelestis aulae solium noscitur insigniri. 
8 Nec super hoc tibi obsistat trepidatio ex eo consurgens, quod tamquam eorum ignara, quae de concessione Regulae memoratae praedicimus, te ad supradictae Regulae observantiam obligasti; nam nullo modo teneris ad illam, cum per Sedem Apostolicam approbata non fuerit; et a saepe dicta Clara, ejusque Sororibus, ac aliis non servetur. 
9 Quid ulterius? Quia non videtur votum infringere, qui commutat ipsum in melius; te, ac Sorores tuas ab observantia praedictae formulae de indultae Nobis a Domino potestatis plenitudine absolventes volumus, et mandamus, quatenus eamdem Regulam tibi sub Bulla nostra transmissam reverentia filiali suscipias, in monasterio tuo perpetuis futuris temporibus cum ilis articulis observandam, super quibus ea charitate devicti, quae coeli Regem ad compatiendum languoribus humanae fragilitatis induxit, duximus dispensandum; 
10 prout in litteris apostolicis directis tibi per memoratum Priorem super petitionibus ex parte tuae sinceritatis oblatis, quantum in Domino fieri cum salute animae tuae potuit, favorabiIiter expeditum perspicies contineri: firmam de Nobis habitura fiduciam, quod si a te aliquando, vel sororibus jam dicti monasterii de ipsius Regulae in aliquibus temperando rigore, aut super aliis requilisi fuerimus, super hoc tuis, et ipsarum votis secundum Deum paternis affectibus annuemus. 
Datum Laterani V. Idus Maii Pontificatus Nostri Anno Duodecimo.

TEXTO TRADUZIDO

17. Angelis Gaudium (1238)

À dileta filha Inês, serva de Cristo e da gloriosa Virgem bendita entre todas as mulheres, saudação e bênção apostólica. 
1 Acreditamos que, convertendo-te ao Senhor, com grande alegria dos anjos, tenhas chegado a tal grau de devoção que rejeitaste as roupas comuns e te revestiste com o hábito da pobreza, para que, seguindo os passos do Rei eterno, possas obter o prêmio celeste que foi prometido aos que o seguem. Na realidade, para que nisso, pela ação do Senhor, tua intenção possa ser dirigida e cumprida, deves estar solicitamente vigilante para teres sempre o coração inflamado, sob a inspiração do Senhor, na observância das virtudes, e estejas sempre pronta para o culto da obediência e disposta à glória daquele que se fez obediente ao Pai até a morte na Cruz. 
2 Como nós fomos estabelecidos pelo Senhor, mesmo sem merecimentos, como pai de todos os fiéis para que, com o auxílio de Deus, pelo nosso serviço as almas sejam salvas, tens que receber nossos conselhos com devoção e tratar de cumpri-los com um esforço eficaz, principalmente na-quelas coisas que só se fazem para agradar ao Criador de tudo. 
3 Na verdade, filha da bênção e da graça, quando ainda estávamos em um cargo menor, Clara, abadessa do mosteiro de São Damião em Assis, filha querida em Cristo, e algumas outras mulheres devotas no Senhor, abandonando a vaidade do século, optaram por servir ao Senhor na observância religiosa. São Francisco deu-lhes, como a recém-nascidas, não comida sólida, mas o leite que melhor lhes convinha, que foi a Forma de Vida. Ela nos foi apresentada em um papelzinho, com o teu selo, pelo prior do Hospital São Francisco, de Praga, homem discreto e zeloso, pedindo humildemente que confirmássemos com autoridade apostólica a forma de vida composta a partir da predita fórmula de vida e com alguns capítulos que estão contidos na Regra da Ordem de São Damião. Nós, mesmo tendo recorrido ao conselho da razão, não vimos por que confirmar essa graça. 
4 Primeiro, porque Clara e as irmãs professaram solenemente a predita Regra, escrita com vigilante dedicação e aceita pelo referido Santo, e depois confirmada pelo Papa Honório, nosso predecessor de feliz memória, que, por nossa intercessão, concedeu-lhes o privilégio da isenção. 
5 Segundo, porque elas, deixando de lado a tal fórmula observaram louvavelmente a referida Regra desde quando professaram até agora. 6 Terceiro, como foi estabelecido que fosse observada com uniformidade por todas as que professaram, e em toda parte, poderia haver um escândalo grave e insuportável se alguém tivesse a presunção de fazer o contrário. Mais do que tudo, porque as outras irmãs da Ordem, vendo assim violada a integridade da Regra, ficariam perturbadas na sua observância. Que Deus não o permita! 7 Por isso pedimos que sejas devota e obedeças, no Senhor Jesus Cristo, impondo, para a remissão de teus pecados, que consideres atentamente tudo que dissemos, entendendo prudentemente que, seja o que for que te sugira alguém que pode ter zelo, mas sem conhecimento, deves ter em teus afetos acima de tudo o que agrada a Deus, o que é por nós aceito, salutar para ti e para as outras pessoas, isto é, que observes diligentemente, com a anuência do Redentor, a sobredita Regra, deixando de lado qualquer outra razão, fazendo que tuas irmãs a obedeçam, na inefável esperança a ti proposta de que isso vai ajudar a tua alma, graças à misericórdia de Deus, para que mereça que sejas adornada com as pedras preciosas que, sabemos, adornam o trono da morada celeste. 

8 E não te reste nenhuma dúvida, mesmo que não entendas o que te dissemos sobre a concessão da Regra acima lembrada, por te sentires obrigada a observar a outra Regra. Pois de maneira nenhuma sois a ela obrigada, uma vez que não foi aprovada pela Sé Apostólica, e que não é seguida nem por Clara, nem por suas irmãs, nem por nenhuma outra. 

9 O que mais? Não parece que esteja violando um voto quem o está mudando para melhor. Por isso, em vista do poder que nos foi concedido pelo Senhor, nós te liberamos, a ti e a tuas irmãs, da observância dessa fórmula e te mandamos que aceites com reverência filial a Regra que foi transmitida por nós numa bula que te foi entregue, observando-a para sempre em teu mosteiro mesmo nos pontos que dizem respeito a algumas dispensas que concedemos levados por aquela caridade pela qual o Rei dos céus teve compaixão da fragilidade humana. 
10 No que diz respeito ao conteúdo das Cartas Apostólicas que te foram dirigidas através do referido prior, cartas em que são tratados os pedidos apresentados por tua sinceridade, deves considerá-lo favorável ao bem da tua alma. Deves ter firme confiança em nós porque, se alguma vez por ti ou pelas irmãs do teu mosteiro for pedido para mitigar o rigor da Regra ou de outras disposições, nós seremos condescendentes com afeto paterno, segundo a vontade de Deus. 
Dado em Latrão, no quinto dia dos Idos de março, no décimo segundo ano de nosso pontificado.