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TEXTO ORIGINAL

Legenda Versificata - 28

XXVIII- De miraculis que signo crucis operata fuit. 

Scribentis calamus fletus depinxit amaros 
Virginis et crebra lacrimarum flumina, quorum 
Perfudit (divina) crucis vestigia rivis; 
Et nunc melifluo testu describit amenos 
Arboris ipsius fructus et dulcia poma, 
Que lacrimas tergunt et mulcent pectus amantis, 
Balsama precellunt et aromata queque revincunt; 
Que lacrimis madefacta piis crux ipsa refudit 
Virginis in manibus. Operatur mira, medetur 
In virtute crucis mater languentibus, adque 
Omnibus egrotis medicamine subvenit uno. 
Set cum sit longum signorum pingere telam 
Et que circunstant loca, tempora (trad)ere metris, 
Que sinus ystorie largo sermone resignat; 
Sit satis exprimere morbos curasque medentis, 
In quibus ipsa Crucis preclara potentia fulget 
Et meritum famulantis ei virtusque relucet. 
Cum foret arreptus furiis, ut gesta recensent, 
Frater cui nomen Stephanus, Franciscus ad ipsam 
Dirigit egrotum, mandans sibi ferre medelam. 
Prosequitur patris verbum: langore gravatum 
Consignans, ubi multotiens orare solebat 
Obdormire parum fecit; sompnoque retentum 
Liberat. Evigilans surgit sospesque recedit. 
Quidam Mathiolus dictus, puer atque triennis, 
Naribus intrusit lapidem; cui nulla salutem 
Ferre manus potuit. Ad Claram curritur; huncque 
Christi signavit signo, lapidemque reiecit. 
Infectus maculis oculum Perusinus habebat; 
Claram curandus adiit. Signavit, eumque 
Ad matrem misit, signum crucis ut geminaret. 
Hec nate veneranda sequens vestigia, mundum 
Spreverat et Christo cupiens servire, soluta 
Lege maritali, sub religionis amictu 
Concluso cum virginibus se clauserat [h]orto. 
Obsequitur proli mater, signoque beato 
Lesum signavit oculum. Mox, nube fugata, 
Limpidus efficitur. Merito genitricis id actum 
Testatur Clara; set se medicamine tali 
Asserit indignam mater, prolisque beate 
Extollit meritum tribuens ei pondera laudis. 
Per quasi bis senos annos afflixit in ulna 
Unam de sotiis morbus, cui fistula nomen. 
Stillabat saniem per quinque foramina plaga. 
Cui virgo compassa, crucis medicamine summo 
Plagam curavit sotie, tribuitque salutem. 
Illo de numero quedam, cui nomen Amata, 
Ydropisim, febrem, tussim, laterisque dolorem 
Per tredecim menses fuerat perpessa, nimisque 
Tot morbis oppressa simul confecta iacebat. 
Conpatiens mater expertam consulit artem, 
Salvifico signo patienti subvenit, atque 
Tot mala profligans langoribus exuit egram. 
Offitium vocis ammiserat una Sororum 
Per binos annos, et erat sic inde gravata 
Quod vix exterius vox attenuata sonabat. 
Demonstratur ei per visum nocte beata, 
Qua celebris colitur Assumptio Virginis arme, 
Quod sibi per dominam Claram vox restituetur. 
Hoc viso, patiens expectat mane diei 
Cum desiderio; que lucescente, benigne 
Querit opem matris, signari postulat; illa 
Signavit: Vocem mox hec signata recepit. 
Auris perdiderat auditum tenpore longo 
Quedam de sotiis a Christo nomen adepta. 
Hoc contra vitium plures adhibere medelas, 
Set frustra, studuit. Capud huius virgo salubri 
Signo signavit; auditum reddidit illi. 
Infirmabatur graviter pars magna Sororum. 
Ingrediens solitam sotiis adhibere medelam, 
Virgo quintuplicat super egras nobile signum; 
Et dum sic repetit, sanas mox quinque Sorores. 
Ex hiis apparet in pectore virginis huius 
Radicasse crucem: de fructibus intima cordis 
Replet, et ex follis spargit foris ipsa medelas. 
Summam constituit fidei sibi virgo speique 
In (sola virtu)te crucis, misteria cuius 
Pagina sacra notas (et aro)mata clausa figuram. 
Quid nisi forma crucis fuit illa mosayca virga, 
Que lmare divisit (cfr. Ex 14,16), latices de monte deiecit, 
Dulcoravit aquas? Crucis hec magnalia signant. 
Quid peregrina loquor, vel quid mendico remota? 
Quid moror (in minimis et) particularibus insto? 
An mirum censes aliquos languore gravatos 
Mirifico signo crucis accepisse salutem? 
An magnum forte reputas quod particulares 
Partius abstergit morbos, que largius omnem 
Languentis mundi potuit detergere plagam? 
Christi purpureo crux vera peruncta cruore 
Atque quis menbris quasi gemmis predita claris, 
Mortem destruxit, inferni vincla resolvit, 
Restituit vitam, celi patefecit amena. 
Quid non mellifluum, iocundum sive salubre, 
Quid non salvificum, seu mite piumve, benignum 
In cruce resplendet? Crux hec mala cuncta recidit, 
Morbos depellit, languores sanas et omnes 
Corporis abscidit pestes, eliminat omnes 
Sordes et maculas anime, fugas omne malignum, 
Litigium solvit, celi terreque relegas 
Discidium, sedas odium pacemque reformat. 
Hic adverte parum quod crux, licet omnia possit, 
Se tamen humanis studiis meritisque coaptat, 
Et pro mensura fidei se format in illis. 
Non erat unius apud omnes manna saporis. 
Dissimiles parit hec fructus in dispare cultu: 
Pectora si tepida fuerint, crux ipsa tepescit; 
Cum calidisque cales, si sint ferventia ferves. 
In se largiflua, primis se reddit avaram; 
Parca penes medios, postremis magna rependit 
Est eadem diversa gerens; variatur in illis, 
In quibus ipse crucis cultus differre videtur. 
Hinc patet in Clara quod, dum crucis ardet amore, 
In cruce magna facit, per eam crux grandia prestat.

TEXTO TRADUZIDO

Legenda Versificada - 28

XXVIII – Milagres que fez com o sinal da cruz

A pena do escritor descreveu os amargos prantos da virgem e os freqüentes rios de lágrimas com que lavou em regatos os vestígios divinos da cruz. Agora, com texto suave, descreve os agradáveis frutos dessa árvore e seus doces pomos, que enxugam as lágrimas e consolam o coração de quem ama. Destacam-se os bálsamos, e os aromas também predominam. 
Pois a cruz, banhada em lágrimas, refluiu nas mãos da virgem. A madre operou maravilhas, curou doentes, pela virtude da Cruz, e a todos os enfermos atendeu com o mesmo remédio. 
Entretanto, como seria longo descrever toda a trama dos sinais e colocar em verso as circunstâncias de lugar e tempo, que o seio da história conta com muitas palavras, baste contar as doenças e as curas que ela fez, nas quais a própria cruz refulge com preclaro poder e reluz o mérito daquela que a servia. 
Como conta a história, estava arrebatado pela fúria um frade chamado Estêvão, e Francisco enviou o doente a ela, mandando que lhe desse remédio. Ela obedeceu à ordem do pai: marcou o enfermo com o sinal, no lugar onde muitas vezes costumava rezar, e o fez dormir um pouco. Depois do sono, liberou-o Ele acordou, levantou-se e foi embora são e salvo. 
Um menino de três anos, chamado Mateuzinho, enfiou uma pedrinha no nariz. Mão alguma conseguia devolver-lhe a saúde. Correu a Clara; ela o marcou com o sinal da cruz e ele expeliu a pedra. 
Um perusino tinha um olho atacado por manchas. Foi a Clara para ser curado. Ela fez-lhe o sinal e o enviou a sua mãe, para que fizesse outro sinal da cruz. Esta tinha seguido o caminho venerando da filha, quando ficou livre da lei do matrimônio, e se encerrara no jardim fechado com as virgens, sob a veste religiosa. A mãe obedeceu à filha e marcou o olho lesado com o bem-aventurado sinal. Imediatamente a nuvem foi afastada e o olho ficou límpido. Clara afirmava que tinha sido pelo mérito de sua mãe, mas a mãe dizia que era indigna dessa cura e louvava o mérito da bem-aventurada filha, atribuindo-lhe o peso do louvor. 
Por quase doze anos, uma das companheiras foi atribulada em um braço por uma doença chamada fístula. A chaga soltava pus por cinco orifícios. Com pena dela, a virgem curou a chaga da companheira com o sumo remédio da cruz, e lhe devolveu a saúde. 
Uma entre elas, chamada Amata, sofrera por treze meses de hidropisia, febre, tosse e dor do lado. Muito oprimida por tantos males, jazia exausta. Compadecida, a madre recorreu à sua arte, fez um sinal da salvação na paciente e, afastando todos os males, libertou a doente de seus sofrimentos. 
Uma Irmã perdera a voz, já fazia dois anos, e a situação era tão grave que mal se ouvia o som de sua voz enfraquecida. Foi-lhe demonstrado em visão, naquela noite feliz em que se festeja a célebre Assunção da Virgem Maria, que sua voz seria restituída por dona Clara. 
Quando viu isso, teve a paciência de esperar que o dia amanhecesse, cheia de desejo. Quando amanheceu, foi buscar a ajuda da madre bondosa, e pediu que lhe fizesse o sinal. Ela fez. Assim que foi assinalada, ela recebeu a voz. 
Uma das companheiras, que recebera o nome de Cristo perdera o uso do ouvido já fazia bastante tempo. Procurou usar muitos remédios contra esse mal, mas em vão. A virgem fez o sinal da salvação em sua cabeça e lhe devolveu a audição. 
Grande parte das Irmãs estava gravemente doente. A virgem entrou para lhes dar o remédio costumeiro. Fez o nobre sinal sobre cinco doentes e, ao faze-lo, curou na mesma hora as cinco Irmãs. 
Por essas coisas se vê como a cruz estava enraizada no peito dessa virgem: enchia o interior do coração de frutos e espalhava por fora com folhas os remédios. A virgem colocou para si mesma o resumo de toda fé e esperança só na virtude da cruz, cujos méritos estão anotados na Sagrada Página e são figurados pelos perfumes fechados. 
O quê, se não um símbolo da cruz, foi aquela vara de Moisés que dividiu o mar (cfr. Ex. 14,16), fez correr o líquido da montanha e tornou doce a água? Esses fatos mostram a grandeza da cruz. 
Por que falo dessas coisas peregrinas e por que mendigo fatos remotos? Por que me demoro em coisas pequenas e insisto em particularidades? Ou achas que é admirável que algumas pessoas tenham recebido a saúde com o magnífico sinal da cruz? 
Ou será que achas grande coisa que ela tenha curado algumas doenças particulares quando poderia ter curado a praga de todo o mundo doente? A cruz, toda impregnada pelo sangue purpúreo de Cristo, e com seus membros como que ornados de gemas preciosas, destruiu a morte, quebrou as cadeias do inferno, restituiu a vida, abriu para as delícias do céu. 
Que é que não resplandece na cruz de melífluo, de agradável, de saudável, de salvador ou mansamente piedoso e bom? Esta cruz acaba com todos os males e termina com todas as pestes do corpo. Elimina todas as sujeiras e manchas da alma, afugenta tudo que é maligno, resolve os litígios, refaz a divisão entre o céu e a terra, acalma o ódio e reforma a paz. 
Mas, percebe um pouco, aqui, que a cruz, embora tudo possa, adapta-se aos esforços e méritos humanos, e neles se forma na medida da fé. O maná não tinha o mesmo sabor para todos; a cruz dá frutos diferentes em cultos diferentes. Se os corações forem tíbios, a própria cruz fica morna. Aquece-se com os calorosos, ferve com os fervorosos. Em si mesma abundante, torna-se avara com os primeiros, parca com os do meio, e com os últimos expande grandes coisas. Ela é a mesma fazendo coisas diferentes: varia naqueles em que parece variar o próprio culto da cruz.
Por aí se vê, em Clara, que, na medida em que nela ardia o amor da cruz, a cruz prestava grandes serviços através dela.